Que valor têm, afinal, as atividades "não produtivas" no trabalho?
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Atualmente, tanto na vida pessoal como no ambiente empresarial, temos cada vez menos tempo para parar, raciocinar ou simplesmente para não produzir. Será vantajoso incorporar dentro do horário laboral atividades aparentemente não produtivas como, por exemplo, ler, deixarmo-nos divagar em pensamentos ou desenvolver um projeto pessoal paralelo à rotina diária? Ou será contraintuitivo e contraproducente? Eu acredito que possa ser benéfico introduzir essas atividades, embora haja limitações a serem consideradas.
Penso que a ociosidade estratégica, quando complementada com deep work (trabalho altamente concentrado e sem distrações), está longe de ser uma perda de tempo. Pode, na verdade, ser uma componente vital nas empresas para produzir resultados cognitivos superiores. Afastando-nos das tarefas profissionais, não estamos a desligar os nossos cérebros; estamos simplesmente a mudar para um tipo diferente de trabalho cognitivo.
Um estudo publicado na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" demonstrou que estes períodos de descanso (em que os colaboradores podem aproveitar para ler, refletir livremente, entre outras atividades) conduzem a uma maior criatividade e capacidade de resolução de problemas complexos - atributos muito valorizados presentemente no mercado de trabalho. Outras competências como a gestão de tempo e o planeamento podem também ser desenvolvidas, tal como aconteceu quando, no início dos anos 2000, uma empresa multinacional introduziu uma política que permitia aos trabalhadores reservarem 20% do seu tempo de trabalho por semana para os seus próprios projetos, a par das atividades corporativas.
No entanto, na minha perspetiva, estas atividades podem ser difíceis de implementar em cenários de crise ou pressão por resultados a curto prazo; em empresas maiores e maduras, onde a inovação tende a ser mais direcionada aos objetivos principais - sobrando menos espaço para exploração autónoma; ou em empresas em crescimento, onde coordenar projetos paralelos com tarefas urgentes se torna complexo. Já em funções predominantemente repetitivas ou que exigem uma presença constante, a aplicação deste modelo é ainda mais desafiante.
Em jeito de conclusão, num mundo cada vez mais complexo e veloz, acredito que - desde que haja consciência do contexto - dar tempo de qualidade para pensar, criar e respirar é, sobretudo a longo prazo, uma ótima prática de gestão.