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Gosto de auriculares, ouço tanto disparate que, por vezes, a única forma de fazer ouvidos de mercador, ou fazer-me de surdo, é utilizar o pequeno e útil dispositivo, de modo a manter o equilíbrio. Por estes dias, à custa do senhor primeiro-ministro, nunca se falou tanto daquele equipamento que encaixa no ouvido.
Dependendo do modelo, há situações em que um auricular pode ser desconfortável, magoar mesmo, sobretudo quando se adormece a ouvir música e os fios embrulham-se na almofada. Uma verdadeira confusão. A mesma confusão que o Governo engendrou com o Orçamento aplicado ao desporto, inicialmente de 42,5 milhões. Bastaram 24 horas de gritaria para haver uma correção de 12 milhões, passando o volume para 54,5 milhões. Não sei se foi com auriculares ou com um sopro, mas a verdade é que aconteceu e ainda bem, pois se há atividade em que somos bons e é preciso continuar a investir é na vertente desportiva.
A estratégia é um pouco cansada, anunciando-se um drama para depois baralhar os dados e surgir, por fim, um destino mais favorável. É o chamado mal menor, mas não fico convencido. Nem eu, nem a Confederação do Desporto, nem o Comité Olímpico, nem os clubes e as associações.
O Instituto Nacional de Estatística diz que Portugal investe cerca de 40 euros por habitante. A média na União de Europeia é de 113 euros. Fique o leitor a saber que 40 euros é, por exemplo, a mensalidade que a maioria dos clubes ou associações desportivas exige para aceitar a inscrição de qualquer criança. Mais de 70% dos portugueses não exercem uma atividade física e o Governo assegura que está empenhado em alterar a tendência, até porque pessoas mais saudáveis significa menor sobrecarga no Serviço Nacional de Saúde.
Mas esta história da Carochinha já começa mal nas escolas, onde as aulas de Educação Física são reduzidas ao máximo, obrigando os alunos a estarem sentados numa sala durante quatro ou cinco horas a aprender conteúdos ultrapassados. Um cenário tão ultrapassado como as greves dos enfermeiros, à sexta-feira, e ninguém falar, isso sim, dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica. Fico-me por aqui, o melhor é meter os auriculares e ouvir a Ana Moura.