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Foi pioneiro no nome, na forma como se apresentou ao mundo, na insistência em abrir portas e em colocar o olhar nos últimos. Francisco assumiu-se como homem de mudanças, ainda que escassas para os que sonham uma Igreja mais capaz de estar no mundo, mas talvez a mais radical tenha sido a posição a partir da qual olhou as pessoas. Não quis falar de cima, mas de olhos postos no outro. O que é bastante mais significativo do que aparenta, numa instituição que fez do poder uma forma de estar e em que o altar esteve demasiado tempo nivelado acima dos leigos.
Os temas ambientais tiveram uma relevância que merece destaque, como o merecem as críticas ao capitalismo, as posições sobre Gaza e a defesa intransigente dos migrantes. O seu carinho com os marginalizados e os excluídos não é mais do que um regresso às raízes do cristianismo. A escolha a que o Papa Francisco convidou deveria ser óbvia: uma Igreja que abraça em vez de uma Igreja que aponta o dedo.
Jesus sentava-se com todos os frágeis e miseráveis do seu tempo. E Francisco arejou uma instituição tantas vezes endurecida de coração, que ao longo de séculos sobrepôs o julgamento e a culpa ao acolhimento e ao perdão, para assegurar que nela tinham espaço todas as periferias existenciais.
Foi descrito como um Papa de pontes, porque claramente o outro era, para ele, a única ponte para chegar a Deus. É esse caminho através dos outros que faz tantos ateus e agnósticos elogiarem os seus passos. E eu, que sou toda da dúvida mas tenho uma crença imensa na ternura como chave para uma sociedade mais justa e melhor, espero que o próximo conclave não traia a essência do cristianismo. Creio na “revolução da ternura”. Que ela tome conta do mundo.