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Em janeiro de 2019, a Câmara do Porto anunciava um concurso para ceder a privados, em direito de superfície, o Quartel do Monte Pedral e um terreno no Monte da Bela, em Campanhã, com vista à construção de 400 casas de rendas acessíveis e 200 de renda livre. Apontava-se para 2022 a conclusão da empreitada. Diga-se, desde já, que esse plano ia ao encontro das propostas do PS nas autárquicas de 2017. Mas 2022 chegou e não trouxe uma casa que fosse. É que o concurso para o Monte Pedral só foi lançado há uns meses, quase seis anos depois, encontrando-se em análise uma única proposta. Já o concurso para edificar habitação acessível no Monte da Bela ficou deserto - pela segunda vez.
Irónico é que a Câmara, em todos estes anos, se tenha esmerado na censura aos atrasos do Estado central. Em boa verdade, este fez amiúde triste e má figura. Em 2021, por exemplo, anunciava-se a reabilitação de um prédio na Avenida de França, pelo IHRU, que pertencera ao Exército. Três anos depois, a Câmara mandou vedá-lo, pois tornara-se um foco de insalubridade e insegurança.
Estranhamente, a comunidade político-partidária do Porto mal se pronunciou sobre estes fracassos. Não consta que tenha prescrito algum remédio. Estará sem receitas? Para o Monte da Bela, o Executivo ventilou qualquer coisa sobre cooperativas de habitação... Mas, aqui chegado, melhor faria em colher os louros de programas como o Porto Solidário ou da compra de prédios para reconversão em habitação acessível. Para futuro, fique-nos ao menos o desengano: os privados não estão interessados em fazer parte da solução.
Entretanto, vai-não-vai, os preços da habitação subiram 60% nos últimos cinco anos.
Agora que sabemos que o IHRU vai nu, que são falsos os ídolos do mercado, que o PRR pinga casas a conta-gotas e que, nesta matéria, o Orçamento do Estado é um descampado, o que nos resta? Talvez acender uma velinha a Dan Jorgensen, o futuro comissário europeu com a pasta da habitação. Parece que a coisa não está tão podre no Reino da Dinamarca, a sua terra natal. Sendo um social-democrata, talvez ele opere o milagre da interdição da venda de casas a estrangeiros. O pior é se os fumos da humilde velinha vão ter à futura comissária com a pasta dos serviços financeiros…