O confinamento geral permitiu-me pegar na autobiografia de André Jordan recentemente publicada e que veio parar cá a casa com afetuosa dedicatória.
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Com o título em epígrafe, a acutilante observação do tecido social, político, empresarial e cultural da América do Norte, América do Sul e Europa dos anos 40 à atualidade permite o aprofundamento da compreensão de tantos fenómenos que marcaram o século XX e antecipa muito do que, especialmente em Portugal, se veio a passar nos últimos 50 anos.
Permite ainda reviver os primórdios do desenvolvimento turístico do Algarve e perceber o investimento feito num ordenamento que se quis equilibrado e fortemente tributário do património natural da região tendo na sua origem o primeiro Plano de Ordenamento Regional cujo Relatório tem como autor Augusto Celestino da Costa.
Mas não resisto a citar aqui alguns traços da personalidade coletiva portuguesa que André Jordan descreve como sendo responsáveis pelo salto definitivo que ainda não fomos capazes de dar para tiramos partido de todas as nossas potencialidades:
"(...) não há um sentido de urgência. Pede-se um orçamento e demora quinze dias. (...) O cliente tem de pressionar o fornecedor para obter o orçamento. Quantas vezes telefonei para um fornecedor competente, cujos serviços aprecio, para obter por resposta "tem razão, desculpe lá, a minha sogra foi internada no hospital".
E continua : "Os portugueses também têm um défice de agressividade comercial, na raiz do qual está um traço cultural dominante. São muitos os casos em que preferem não tentar a venda, só porque não gostam de ouvir um "não". O "não" em Portugal é levado a peito, pode até ser considerado uma afronta".
Para concluir: "o ritmo na vida económica é um problema sério em Portugal. Não vale a pena aspirar a ser um país moderno (...) e levar dias e meses para responder a problemas que não levam mais do que horas a resolver. E é tudo assim, (...) quer no público, quer no privado. Qualquer decisão se transforma num parto dificílimo".
Será que as ganas que levaremos no pós-confinamento nos farão pedalar a outro ritmo?
*Analista financeira