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Estaremos em campanha eleitoral ainda uma semana e meia e não é provável, por isso, que se consiga um debate sereno e esclarecido sobre a imigração. O tema entrou de rompante no arranque da campanha por vontade do Governo, que quis mostrar casa arrumada e mão disciplinadora, em contraste com o chavão das portas escancaradas de que é acusado o Executivo antecessor.
A cedência aos discursos da extrema-direita é óbvia e levou também o PS a recentrar o seu posicionamento. Falar de estrangeiros ativa facilmente o medo, ou não fosse a palavra latina para “estranho” que se encontra na raiz etimológica do termo. Mas é obrigação dos titulares de cargos públicos, tal como é missão dos media, não ceder às frases feitas e guiar ações orientadas por factos.
Os números mostram o quanto os imigrantes são essenciais para determinados setores de atividade, para a sustentabilidade da Segurança Social e para o reequilíbrio do nosso saldo populacional. Mais, mostram-se vitais para dar esperança a municípios despovoados e fragilizados no Interior e deveriam justificar políticas diferenciadas em função dos territórios. Este é apenas mais um exemplo da nossa falta de capacidade de pensar o país na sua diversidade.
Terminado o ciclo eleitoral, teremos muito a ganhar com um Governo que tente olhar para este tema numa lógica de coesão territorial e social. A pressão de alguns fluxos, o drama da habitação e as falhas no acolhimento geram problemas difíceis. É preciso combater estigmas e discutir soluções centradas nas pessoas. Parece simples, mas é no mais elementar que estamos a falhar, permitindo que a intolerância ganhe tamanho.