Pedro Ivo CarvalhoO triunfo dos parcosEstamos cansados. De estarmos fechados, mascarados, atordoados. De não termos descanso. E estamos sobretudo cansados dos chavões. Do "isto não é uma batalha, é uma guerra"; do "nada ficará como dantes"; do "a vacina é que vai resolver tudo"; até do famigerado "se não morrermos da doença, vamos morrer à fome".
Pedro Ivo CarvalhoAprisionados pela urgênciaO país político salivou com a suculenta querela institucional entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.
Pedro Ivo CarvalhoA Igreja Universal do Reino dos FactosHá várias estirpes de negacionistas pandémicos.
Pedro Ivo CarvalhoEsvaziar o mal pela raizEduardo Cabrita detém, muito provavelmente, o título nacional de ministro com maior capacidade de resistência aos escândalos da governação.
Pedro Ivo CarvalhoPolícia bom, polícia mauA estabilidade do regime tem dependido, em larga medida, da elasticidade que resulta das tensões e compensações entre o presidente da República e o primeiro-ministro. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa têm demonstrado uma invejável argúcia para se ampararem um no outro. Mesmo quando tropeçam um no outro. O contexto pandémico, que coincidiu com a etapa final do primeiro mandato em Belém, reforçou essa cumplicidade interessada, mas o sentido único da solidariedade institucional pode ter os dias contados. Porque o presidente parece ter mudado no que sempre foi.
Pedro Ivo CarvalhoA culpa já não é o que devia serNum tempo em que se governa ao sabor dos estudos de opinião e das rajadas nas redes sociais, importa recuar 20 anos, tendo como pano de fundo a tragédia de Entre-os-Rios.
Pedro Ivo CarvalhoO TINA da pandemiaDurante os tempos austeros da troika, o jargão mediático decidiu reciclar o conceito TINA (do acrónimo em inglês There Is no Alternative, ou seja, não há alternativa) que, umas décadas antes, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher popularizara.
Pedro Ivo CarvalhoEutanásia à prova de balaSe há coisa que Marcelo Rebelo de Sousa sabe fazer muito bem é sustentar juridicamente as suas posições de princípio. A fundamentação que alicerça o pedido de fiscalização preventiva da morte medicamente assistida que o presidente da República enviou ao Tribunal Constitucional é de uma inteligência argumentativa e objetividade assinaláveis, porque cumpre a missão essencial deste expediente sem se deixar contaminar pelas convicções pessoais (e políticas) do cidadão Marcelo, católico confesso e conhecido opositor desta prática clínica.
Pedro Ivo CarvalhoA liberdade não é istoQuando somos sujeitos de forma penosa às mesmas rotinas, qualquer alternativa, por mais excêntrica que seja, tem um efeito de regeneração. É libertador mudar quando nos forçam a repetir tudo durante demasiado tempo. Não admira, por isso, que, por esse Mundo fora, comecem a ganhar lastro mediático os movimentos de negacionistas da pandemia, gente que se insurge contra a realidade sem querer perceber nada do que está a acontecer. Gente capaz de juntar factos, mas que prefere camuflá-los numa capa de insurreição.
Pedro Ivo CarvalhoJá não dá para saltar do aviãoContinuamos sem poder responder a uma pergunta fundamental quando somos chamados a olhar para o futuro da TAP: no fim do processo de restruturação, a companhia aérea será viável?
Pedro Ivo CarvalhoVacinas em bar abertoHá gente que consegue sempre encontrar elasticidade na desfaçatez com que cospe na cara dos outros. Gente esquiva, videirinha. Pelintra. Gente para quem chegar à frente dos primeiros é uma prova de suprema inteligência e desembaraço.
Pedro Ivo CarvalhoE por que não um ministro covid?A errância que o Governo tem demonstrado na gestão da pandemia (nalguns casos, com o patrocínio de todos os partidos, como no dramático relaxamento do Natal) é resultado de desacertos ocasionais, mas também do desgaste natural que uma crise com esta violência e extensão temporal provocaria em qualquer decisor político ou organização executiva.
Pedro Ivo CarvalhoConfinar nos portuguesesA comunicação política em pandemia faz tanto ou mais do que a vacina pela saúde dos cidadãos. Sinais errados geram comportamentos errados, proclamações dúbias levam a interpretações egoístas.
Pedro Ivo CarvalhoO presidente que sair distoTemia-se que a frequência dos debates televisivos com os candidatos presidenciais pudesse resultar numa rotina enjoativa, mas as audiências têm provado o contrário.
Pedro Ivo CarvalhoCaro dois mil e vinte e umQuase tudo foi dito sobre o que queremos que seja este ano. De regeneração, recuperação, de muito menos solidão. Aspiramos, como se isso fosse possível, a que este se transforme num ano zero, dois mil e vinte e um anos depois de Cristo.
Pedro Ivo CarvalhoOs Ronaldos da CiênciaSe houvesse um medidor da tolerância que pudesse ser aplicado ao cidadão português médio, íamos provavelmente concluir que os valores, em 2020, tinham andado pelas ruas da amargura. Ou seja, altos para a intolerância, baixíssimos para a tolerância.
Pedro Ivo CarvalhoOs imigrantes dão lucroFiguram entre os argumentos mais falaciosos na narrativa de quem vê nos imigrantes que escolhem Portugal para viver ou trabalhar empecilhos naturais ao desenvolvimento do país: sorvem recursos, "roubam" empregos aos nativos e contribuem de forma insuficiente para a causa comum. Só que, afinal, os imigrantes dão lucro. E não é pouco. De acordo com o mais recente relatório do Observatório das Migrações, em 2019 atingiu-se um valor recorde nas contribuições dos estrangeiros para a Segurança Social: 884 milhões de euros. O saldo é claramente positivo, na medida em que "só" beneficiaram de 111 milhões de euros de apoios do Estado. Mas há outra lição a tirar: os portugueses são dos europeus mais tolerantes para com os forasteiros.
Pedro Ivo Carvalho3700 milhões de erros?Salvar a TAP, sim. Mas para quê? A que custo? Salvar a TAP, sim. Até quando? A que custo? Salvar a TAP, sim. Para quem? E a que custo?
Pedro Ivo CarvalhoUma vacina contra a vacinaA vacina contra a covid-19 ainda não chegou, mas já ecoa nos ouvidos de todos com a candura de um violino celestial.
Pedro Ivo CarvalhoA doença e a curaA doença. Foram semanas de tensão, amuos, negociações, capitulações, efabulações e demarcações. Ano após ano, as danças partidárias antes da aprovação do Orçamento do Estado são exercícios de contorcionismo.
Pedro Ivo CarvalhoFalar menos, falar melhorForam todos muito humildes na hora de concluir que nem sempre a mensagem tem chegado de forma percetível aos cidadãos.
Pedro Ivo CarvalhoO lado B do ChegaNão estava escrito nas estrelas, mas era mais ou menos óbvio que a Direita iria pôr em marcha um plano político de poder simétrico ao da geringonça de Esquerda. A questão era saber com quem, com que urgência e com que filtros civilizacionais. Os Açores transformaram-se no tubo de ensaio para um casamento de conveniência que, por obra e graça do PSD de Rui Rio, conseguiu alcandorar à condição de cola institucional da governação regional um partido que defende a castração química dos pedófilos, a prisão perpétua, o reforço das fronteiras e o fim dos serviços públicos de saúde e educação.
Pedro Ivo CarvalhoE quando a vacina chegar?Mesmo sem estar em tronco nu, o presidente da República abriu o peito para amparar as balas do desnorte político. Na entrevista à RTP, assumiu as culpas pelos erros na gestão inicial da pandemia e exortou os portugueses a porem-se na sua pele e na dos demais decisores.
Pedro Ivo CarvalhoAté que a morte nos pareNenhum ministro da Saúde de nenhum país do Mundo estava preparado para isto. Nem nenhum primeiro-ministro. Nem nenhum presidente da República.
Pedro Ivo CarvalhoApertem os cintosÀs segundas, quartas e sextas a TAP é um ativo estratégico para o país, às terças, quintas e sábados é uma companhia aérea que só pode sobreviver à boleia do aeroporto de Lisboa. Enquanto o tilintar da fatura se agiganta nos nossos ouvidos (só passaram três meses e já contamos 1700 milhões de euros de potenciais encargos públicos até ao final de 2021), o Governo vai brincando ao polícia bom e ao polícia mau, deixando transparecer uma aflitiva ausência de estratégia. Para o ministro Pedro Nuno Santos, as quatro rotas criadas recentemente no aeroporto do Porto (Amesterdão, Milão, Zurique e Ponta Delgada) são "um prejuízo para a TAP". Mas para o primeiro-ministro "a TAP não pode ser uma companhia de Lisboa, tem de ser uma companhia do país". A verdade, porém, é que a empresa de aviação que estamos a tentar resgatar do coma já deixou de ser um fator de coesão nacional para se transformar ninguém sabe bem em quê.