É muito mais do que uma empresa, muito mais do que uma ourivesaria. É um verdadeiro laboratório, onde sentimentos e emoções ganham forma. Cada peça é muito mais do que metais e pedras preciosas. É fiel guardiã de uma história única. A Tavares, na Póvoa de Varzim, está a comemorar 100 anos com os olhos postos no futuro, mas orgulhosa de um passado que atravessa três gerações de ourives.
Corpo do artigo
Os irmãos Carlos e Ana são, agora, os rostos ao leme de uma casa que é uma referência da joalharia nacional e já chega a países tão distantes como a África do Sul, os Estados Unidos ou o Canadá.
"Somos conselheiros, peritos, avalistas, ouvimos, transformamos. Nunca foram só joias", conta Carlos, enquanto guia o JN numa visita pela loja, que é ela própria uma verdadeira viagem no tempo.
À entrada do n.º 54 da Rua da Junqueira, a um canto do balcão, há uma foto de Virgílio Aristides Tavares, o avô de Carlos e Ana e fundador da Tavares nos idos anos de 1922. Outra do pai, Miguel, e a de Carlos a receber, em 2016, das mãos do presidente da Câmara, a Medalha de Reconhecimento Poveiro. "É um cantinho mais clássico. Aqui damos confiança ao cliente", explica.
Depois, estende-se o longo balcão corrido que, por ali, é já imagem de marca, o mesmo ao qual Carlos mal chegava quando ali começou a aprender a arte da família. À direita e à esquerda, nas vitrinas, da filigrana aos solitários, do clássico ao moderno, há peças para todos os gostos.
É quase tudo feito em casa. Mais à frente, há um espaço para atendimento personalizado, a galeria - onde figuram alguns dos tesouros da Tavares - e a oficina, onde num "aquário" de vidro quatro pares de mãos dão forma às peças mais especiais.
Na oficina, há uma foto de família de Virgílio Aristides Tavares e uma imagem de Santo Elói, o padroeiro dos ourives; junto à galeria, um quadro imortaliza Miguel - os óculos, o relógio, o cartão comercial, os emblemas que costumava usar no casaco, a lupa, as escalas e a pinça, três moedas, as chaves. Carlos diz que lhe recordam o passado e, em horas de aflição, é nesse legado que procura respostas.
Peças com história
Em 2011, foi dali que saiu o báculo que D. José Cordeiro usou no dia em que foi ordenado bispo de Bragança-Miranda. No bastão trabalhado há folhas e flores de amendoeira e a madeira veio diretamente de Alfandega da Fé, a terra do agora bispo de Braga.
Ao fundo, a joia de mão que a Tavares levou a Expo Dubai, uma co-criação com a trompetista Jéssica Pina onde há um búzio - o primeiro instrumento de sopro - com 251 diamantes, uma água marinha - a pedra dos marinheiros - e finos fios de ouro lembrando as ondas do mar. Num livro, registam-se as muitas histórias de peças marcantes, contadas pelo punho dos próprios: anéis de noivado, alianças, brincos, colares que, tal como os portugueses, se espalham pelo mundo.
A ourivesaria mudou, é certo. Os fios grossos, os enormes anéis e os brincos pesados deram lugar a peças mais finas, de traço delicado e, hoje com o digital na berra, deixou de se vender relógios. No centenário, passada a pandemia e com um 2021 em franco crescimento, há agora uma nova loja na internet e, até ao final do ano, será possível acompanhar online e em tempo real cada passo do design e da confeção da peça, mas o respeito pela joalharia, o orgulho em cada história contada e o carinho com que se recebe cada cliente, esse é um legado que veio para ficar.