"Um acto aterrador", uma "tempestade", "horas de angústia", "loucura", um dia "que nunca se apagará da memória". Assim descreveu o JN, na sua edição de 1 de fevereiro de 1891, fechada às 3 horas da madrugada de um domingo, a "sublevação militar" de 31 de janeiro, que "não passou de uma revolta militar local" e foi vista, bem de perto, pelos jornalistas.
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Surgido no contexto da crise que se instalou no país depois da cedência de Portugal ao ultimato britânico sobre as potências coloniais, o movimento militar que se instalou no Campo de Santo Ovídio, atual Praça da República, de discreto e sigiloso nada teve, conforme escreveu o JN nas suas páginas. "Ante-hontem à noite corriam insistentemente no theatro de São João boatos de que as tropas de guarnição d"esta cidade se preparavam para sair dos quartéis", lê-se numa notícia, onde se vinca que "nada de anormal" foi visto pelos jornalistas que percorreram os vários equipamentos militares da cidade.
Mas, a revolta classificada pelo JN como "o terror" surgiu uma hora depois. "O terror em que esteve toda a cidade durante o tiroteio", escreveu-se, para depois se descrever como ficaram as ruas da cidade findos os combates, pelas 8 horas. "Em todos os rostos havia um olhar doloroso, luctuoso, produzido pelos boatos que corriam, anunciando grande número de mortes", lê-se na notícia, em que se refere que a Rua de Santo António ficou com "um aspecto desolador": "Todos os estabelecimentos encerrados, as vidraças despedaçadas, os vidros das montras partidos, as portas cravadas de balas e sobre as lajes dos passeios manchas de sangue coalhado".
Com a rendição dos revoltosos, com que culminou o movimento daquela madrugada, terminaram as "horas de angústia". "À hora em que fechamos esta edição, 3 da madrugada, ninguém dirá que a tempestade se desencadeou sobre o Porto", escreveu o JN, confessando ter feito notícia sobre algo "que nunca desejamos anunciar".
"Nunca se apagará a memória do dia d"hontem, que se eternizará nos lamentos das víctimas e nas desventuras dos familiares que ficam ao desamparo", constata-se ainda na edição de 1 de fevereiro de 1891 do JN sobre o dia em que a cidade do Porto foi colocada em estado de sítio pelo Governo, que "suspendeu as formalidades que garantem as liberdades individuais" durante o que considerou uma "rebelião".
"A luta foi de soldados com soldados", concluiu o JN, considerando que a população se "conservou alheia a qualquer manifestação política, não tomando a mais pequena parte do movimento", que, embora falhado, acabou por ser o embrião da implantação do regime republicano em Portugal.