O primeiro dia deste mês ficou marcado pela reabertura de duas casas históricas da cidade do Porto: A Regaleira, restaurante fundado em 1934, onde nasceu a famosa francesinha, e o Majestic, café icónico com quase cem anos, considerado um dos mais belos do mundo.
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Após o encerramento forçado em 2018, devido à revogação do contrato de arrendamento, os irmãos Tiago e Francisco Passos, gerentes da Regaleira, decidiram procurar um novo local para o restaurante. Netos do fundador, António Passos, recordam as dificuldades para encontrar "o sítio certo". Diz Tiago que deixar o restaurante na mesma rua, a do Bonjardim, foi a estratégia para não perder os clientes.
Quem já conhecia os cantos à casa e agora entra na nova Regaleira percebe que só houve mudanças na arquitetura. Quase ao lado do antigo espaço, perto da Praça D. João I, a histórica casa define-se como "a Regaleira de sempre". A mesma família, os mesmos funcionários, a mesma história, o mesmo cardápio, e claro, a francesinha de sempre. Criada em 1952 pelo chefe Daniel David da Silva, a receita mantém-se até aos dias de hoje sem sofrer alterações. "O segredo é o molho", dizem os irmãos Passos.
Mas nem só de francesinhas se faz esta casa. Toda a carta é focada em pratos tradicionais portugueses, mas a reabertura traz uma novidade. "Quisemos apresentar uma inovação. Achámos que seria engraçado criar uma cerveja que casasse bem com a francesinha", diz Francisco. Amigo da família e mestre cervejeiro, Gilberto Palmeira foi desafiado a criar uma cerveja que fizesse pandã com a francesinha. Após cinco receitas pensadas e avaliadas por juízes, foi escolhida aquela que é, agora, a Cerveja Regaleira. Um exclusivo da casa que esgotou na primeira semana de abertura.
Sem saberem o que era trabalhar na restauração em época pandémica, Tiago e Francisco notam diferenças a vários níveis, como lotação da sala reduzida a metade, horários específicos, sorrisos tapados por máscaras e cuidados redobrados de higiene do espaço.
O mesmo café de sempre
Como não há uma sem duas, também outra casa retomou o funcionamento. O café Majestic, na Rua de Santa Catarina, gerido por Fernando Barrias, encerrou no dia 30 de novembro devido à pandemia, que trouxe o regime de teletrabalho, muitas restrições e a diminuição drástica do turismo. Fernando diz que no mês em que foi tomada a difícil decisão de fechar as portas "os lucros já eram nulos".
Fechados durante sete meses, mantiveram os funcionários em lay-off. Retomado o serviço, regressaram as mesmas caras. "A mesma casa, o mesmo ambiente, o mesmo cardápio e nós, os mesmos de sempre", observa o gerente.
Fernando Barrias lembra com saudade os tempos em que tinha filas com 70 pessoas que ali se mantinham pelo desejo de entrar no emblemático Majestic. Após a reabertura ainda não viu tal coisa acontecer, mas não perde a esperança: "Eu acredito nos tempos futuros. Confio na vacinação".
A casa já sente a presença dos turistas. Maioritariamente franceses, espanhóis e holandeses. Fernando vê com satisfação 90% do turismo da cidade passar pelo café. Pensar na data certa para reabrir portas foi a chave para um bom regresso. No final do ano, o Majestic, que em 1921 nasceu como café Elite, chega ao centenário.