O projeto imobiliário de luxo só pode avançar após entregar a última casa à Câmara do Porto.
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Cinco meses depois de iniciada a demolição já pouco ou nada resta das três torres do Bairro do Aleixo que dominavam a paisagem em Lordelo do Ouro, no Porto. A construção do novo empreendimento imobiliário de luxo está no entanto longe de se iniciar porque as contrapartidas à Câmara do Porto estão por cumprir.
Os últimos números mostram que o Invesurb, Fundo Especial de Investimento Imobiliário gerido pela Fundbox, só entregou à Autarquia 23 casas de um total de 146. No primeiro trimestre de 2020, prevê-se a conclusão da obra na Travessa de Salgueiros e a entrega de mais 29 fogos.
Contudo, na última reunião do Executivo, a Câmara aprovou uma alteração ao contrato do Bairro do Aleixo e para o terreno municipal na Travessa das Eirinhas vão ser construídas mais casas, num total de 48 fogos. Esta alteração leva a que no Bairro do Leal sejam construídos menos 12 fogos.
Na mesma reunião, Rui Moreira lembrou a "pesada herança" do Fundo do Aleixo, criado pelo seu antecessor, Rui Rio, em 2010. E do projeto imobiliário anunciado na altura para o Aleixo pouco ou nada foi concretizado, tendo os moradores sido os principais sacrificados por não serem transferidos para as casas construídas pelo fundo noutras zonas da cidade, mas sim espalhados num processo apressado de realojamento por vários bairros municipais.
Projeto privado de luxo
Os terrenos das antigas torres estão hoje limpos, em terra batida e lisa, ladeados por altas árvores à espera que o fundo entregue a última casa à Câmara para ali poder construir um projeto urbanístico 100% privado, de luxo e para venda.
Rosa Santos Silva, a Rosa do Aleixo, que foi agraciada pelo presidente Jorge Sampaio com a Ordem de Mérito Oficial por durante anos presidir à associação de moradores do bairro, diz-se "traída pelos políticos" e vive hoje de recordações (ver mini-entrevista). A Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo, essa, mudou de local, está agora junto ao Clube Fluvial Portuense e poderá alterar o seu nome. "Mantemos contacto como muitos dos antigos moradores. Os nossos utentes do jardim de infância já eram filhos de moradores e antigos residentes e no ATL muitos foram também com a associação", afirma José Renato, presidente da associação.
Neste momento, a associação prepara uma candidatura ao programa Pares (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais) para criar o Centro de Ação Social de Lordelo do Ouro (Casulo), concentrando numa só estrutura o jardim de infância, o ATL e uma creche para as crianças daquela freguesia.
O fim do bairro com 50 anos
1968 - Começa a construção da primeira torre do bairro.
1972 - As primeiras famílias começam a ocupar a Torre 1.
1974 - O bairro é oficialmente inaugurado a 13 de abril.
2000 - Nuno Cardoso, então presidente da CMP, sugere a eliminação do bairro.
2001 - Em campanha eleitoral, Rui Rio diz que demolição não é solução.
2011 - Rui Rio muda de opinião e a Torre 5 é implodida.
2018 - Rui Moreira decreta demolição das restantes torres.
Operação mediática
Mais do que os problemas sociais decorrentes do tráfico de droga, o Bairro do Aleixo ficou conhecido dos portugueses pela operação mediática que rodeou as implosões das torres 4 e 5, transmitidas em direto pelas televisões em 2011 e em 2013.
Fundo sem dinheiro
O Fundo Especial de Investimento Imobiliário, criado em 2010 para gerir o projeto, acabou sem dinheiro para construir casas e fazer os realojamentos.