"Em que cabeça poisará, gloriosamente, a coroa de Rainha dos mercados do Porto? Qual será a preferida, a mais linda, a eleita?" Este foi um tema que dominou as edições do JN em agosto de 1929. O concurso, que envolveu os mercados do Anjo, do Bolhão e a Praça do Peixe, acabou por gerar uma "luta eleitoral muito grande, agitada, havendo raivas e zangas".
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Ao longo do mês, o JN foi acompanhando a "luta renhida" entre as candidatas nos vários mercados. No Bolhão, tudo indicava que triunfaria a vendedora Aninhas Fontes, "se, inesperadamente, não aparecesse qualquer surpreza que, em eleições, são sempre frequentes", escreveu-se na edição de 2 de agosto.
Nos demais mercados a eleição foi levada muito a sério e perder não era uma alternativa para algumas candidatas que fizeram "batota". Entre "pedinchice de votos", "zangas" e "protestos", começaram a chegar acusações ao JN contra candidatas: "no Bolhão, aquela que já tinha 73 votos é porque os arranjou ilegalmente".
O confronto no mercado do Anjo foi frontal entre Ilda Luz Guimarães, vendedora numa barraca de hortaliça, e a peixeira Sidalia. No dia 31 de agosto, as capas do JN estamparam a receção das multidões quando as duas candidatas chegaram ao Mercado.
A polícia chegou a intervir, depois de se verificar uma grande agitação e "uma chuva de gritos, entre as Ildicas e as Sidalicas", dois grupos que apoiavam as candidatas, como expôs o JN no dia 31 de agosto.
"Queres mama! Olha a pinderica a julgar-se rainha!". "Olha a beiça, olha a beiça". "Não tem um espelho em casa". "Olha a piolha que quer ser rainha". Este último comentário era o mais frequente contra Ilda, que era "baixinha".
Foram "tais os vivas, os morras e os gritos que a eleição da Rainha não se pôde fazer, e a meza eleitoral dissolveu-se".
Os votos não chegaram a ser apurados e "nada se soube sobre a escolha da mais linda vendedeira do Mercado do Anjo". Soube-se que na urna, as votações em conjunto "prefaziam os 600", um valor superior ao número de inscritos no mercado que podia votar.
Em declarações ao JN, o delegado no Porto do "Jornal dos Mercados", Serafim Ribeiro Piedade, afirmou que a eleição ia avançar para outros moldes: "o Mercado do Anjo não fica sem Rainha e perante as duas mais classificadas, um juri composto por tres membros de 3 diários e de três professores da Escola das Belas Artes, de verdade e de justiça, darão o título a quem de direito e pela beleza deverá ser a Rainha".