Rodou, rodou, rodou... e foi cair nos braços de um empresário de automóveis, a cruz de Fontão. No próximo ano, o novo mordomo vai servir o almoço de Páscoa a centenas de pessoas e suceder ao fiel de armazém António Ribeiro.
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A cruz segurada pelo mordomo percorreu várias voltas por entre as mesas alinhadas no interior de uma tenda para o almoço pascal. No espaço, ecoava o coro de cerca de 400 vozes entoando "Aleluia". De repente, o desfile pára e a cruz é entregue a um dos convivas. A euforia irrompe nos presentes. A tradição tinha sido cumprida em Fontão, Ponte de Lima: estava escolhido o novo mordomo que terá a obrigação de "pagar" o almoço de Páscoa à freguesia no próximo ano.
O novo mordomo de Fontão, Manuel Vieira, é empresário do ramo automóvel e tem 41 anos, casado, com dois filhos. Quando percebeu que a cruz lhe iria ser entregue, desabafou: "Não contava, não estava nada mesmo à espera". Recomposto da surpresa, lá foi dizendo que se sentia "honrado e fontanense por ter sido escolhido". Considerando uma "grande responsabilidade", garantiu que tudo fará "para manter com dignidade a tradição, que é uma alegria imensa para a aldeia".
"Aliviado" estava, por seu turno, António Ribeiro, fiel de armazém e mordomo cessante. Recebeu a cruz, no ano passado, de um primo e este ano já tinha ido para o almoço com a sua escolha feita. Durante o primeiro prato servido, desabafou: "Ele está na sala, ainda bem". Havia o risco do escolhido não ir ao almoço e aí a escolha teria que ser feita na hora. Mas tal não foi necessário. "Foi uma grande responsabilidade e uma dor de cabeça para organizar tudo isto", disse, sentindo-se, no entanto, satisfeito de aos 55 anos ter tido a "honra de ser mordomo".
O almoço custou-lhe cerca 25 mil euros, e para o repasto "foram servidos 150 quilos de cabrito, 200 de vitela, 200 de bacalhau, que foram regados com 600 garrafas de vinho branco e outras 300 de vinho tinto" revelou a esposa, Conceição Dantas. O que vale "são as ajudas que recebemos de todos os que vêm ao almoço e que ajudam a pagar a despesa", disse António Ribeiro. A ajuda voluntária também aparece a outros níveis, como os diversos voluntários que se oferecem para ajudar na cozinha ou a servir à mesa.
"Existem muitos jovens que querem ajudar, durante o almoço, o que é muito bom pois parece existir na juventude a vontade de não deixar morrer esta tradição tão forte em Fontão", disse ainda António Ribeiro.