Nasceu no dia 24 de dezembro e por isso chama-se Ana de Jesus. A mãe ainda fez as rabanadas, mas "já não as comeu", conta-nos de sorriso rasgado.
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Ouve a missa e o terço na rádio todos os dias e não dorme sem fazer as suas orações. Levanta-se "lá para as oito e tal da manhã" e não passa sem "um quadradinho de chocolate". Quando lhe perguntamos qual o segredo para ter chegado aos 105 anos, Ana responde pronta: "Deus é quem manda".
A pouco menos de um mês de completar 106 primaveras - "gosto de fazer anos, porque é sinal que cá estou" - Ana de Jesus mantém o otimismo e a alegria de viver. Tanto assim que, com alguma regularidade, desloca-se a um centro de dia, na Senhora da Hora, em Matosinhos, onde motiva os 25 utentes, transmitindo-lhes o seu exemplo de vida.
"Não se queixa de nada e só suspeito que tem alguma dorzita quando anda mais calada, porque nós as duas nunca estamos caladas", contou ao JN a filha, Celeste, de 68 anos.
Com uma memória fresca, Ana de Jesus vai desfiando episódios da sua vida, do mesmo modo que recita versos de cor.
"Antigamente é que a vida era difícil!", desabafa a idosa, que recorda "nunca" ter ido à escola, porque "naquele tempo as raparigas eram para ajudar no que fosse preciso". Com os pais moleiros, Ana de Jesus "ia muitas vezes levar farinha aos fregueses". Até que aos 18 anos foi "servir para o Porto".
"Até ao ano passado, ainda era ela que fazia a sua sopa e lavava a loiça", revela a filha, com quem a idosa vive no Porto.
Na ementa de Ana de Jesus "não podem faltar Nestum com bolachinhas ao pequeno-almoço, sopinha (de preferência com salsa que faz bem ao coração) e batatas com peixe cozido".
Adepta do Futebol Clube do Porto, não perde um relato dos jogos. Mas, "quando aquilo começa a dar para o torto", desliga o rádio.