O furto de colmeias, ao longo dos últimos meses, na Serra da Lousã, gerou prejuízos na ordem dos 140 mil euros e levou apicultores a estender a vigilância noite dentro. Há quem madrugue para estar mais tempo de olho nas colmeias e há até quem durma junto delas.
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“Hoje em dia, nós, apicultores, temos de ter as colmeias, ou no quintal, ou debaixo da cama!”, diz António (assim, só), que resolveu pernoitar na serra, depois de, há perto de um ano, ter perdido “150 caixas cheias de mel e dez colmeias”, no valor de, aproximadamente, nove mil euros. A fazer as contas “por baixo”, sublinha. Não está sozinho. E, como ele, existem outros a tomar conta das colmeias de dia e de noite.
“Muitas vezes, vou lá de madrugada”, conta Vicente Henriques, que já pondera “passar algumas noites” na Serra. O furto de que foi vítima aconteceu, também, há quase um ano. Foi lesado em cerca de três mil euros, não sabe ao certo quantas alças (onde se acumula o mel) perdeu. “Levaram as melhores, carregadas de mel”, num ano de grande produção, lembra. Por isso, não tem dúvidas de que os responsáveis são “profissionais no assunto”. “É preciso saber manusear, carregar. Não se carrega aquilo de qualquer maneira”, explica.
Opinião idêntica tem o presidente da Lousãmel – Cooperativa Agrícola de Apicultores da Lousã e Concelhos Limítrofes. “Não é uma pessoa que carrega 25 colmeias”, diz António Carvalho, o alvo mais recente. Foi esse o número de colmeias - com caixas cheias de mel e abelhas - cujo desaparecimento notou, já lá vai uma semana. Cada colmeia pesaria 75 quilos. Juntas, atingiriam um valor próximo dos cinco mil euros.
Desapareceram 700 colmeias
A directora-executiva da Lousãmel, Ana Paula Sançana, estima que, nos últimos seis meses, tenham desaparecido cerca de 700 colmeias, o equivalente a 140 mil euros de prejuízo. O cálculo inclui o material, o mel e as abelhas, assumindo que o valor de uma colmeia ronda os 200 euros.
O problema é de âmbito nacional, mas tem vindo a atingir os apicultores que produzem mel certificado na Serra da Lousã com particular intensidade, desde o último ano, referiu Ana Paula Sançana. Recentemente, um apicultor ficou sem 60 colmeias, exemplificou António Carvalho.
“Esta é uma actividade pobre em si e [os apicultores] vêem o pouco de que estão à espera voar. É desmotivante”, observou, por outro lado, o presidente da Lousãmel, um dos lesados que apresentaram queixa na GNR.
António Piedade fez o mesmo. Vítima de furtos nos últimos dois anos, optou, agora, por não levar as colmeias para a serra. Tem “medo” de passar pelo mesmo, porque, como descreveu, ao JN, “custa muito, é uma chapada que a gente leva. Nem é o valor, é o gosto que a gente tem por aquilo. É preferível uma colmeia morrer do que chegar e não ver nada”.