D. José Cordeiro, que cumpriu ritual da Páscoa, lamentou que o medo esteja "a apoderar-se" dos mais novos.
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"Nós, jovens, não somos o futuro da Igreja, somos o presente. Saber que nos deram esta representatividade e que [o arcebispo] é um servo, que está aqui para servir os jovens, foi um marco importante". Foi com emoção que Renata Silva viveu, esta quinta-feira à tarde, a cerimónia do lava-pés, que encheu a Sé de Braga. Fez parte dos 12 jovens escolhidos por D. José Cordeiro, pelo seu papel de voluntária numa casa de acolhimento. O arcebispo chamou, também, escuteiros para o rito.
"O medo está a apoderar-se da vida das pessoas e, em especial, dos jovens. Tenho sentido neles o medo de casar, de ter filhos, de pensar o futuro, de arriscar, de confiar nas outras pessoas. Todas as possibilidades que temos ao nosso alcance devem ser para caminharmos juntos na coragem, confiança e proximidade", afirmou o arcebispo, já depois da cerimónia de cerca de duas horas que voltou as atenções para "os lavadores de pés", ou seja, cidadãos que, nos dias de hoje, estão ao serviço da sociedade.
Conforto
D. José Cordeiro falou de cuidadores de idosos, dos profissionais de saúde, dos voluntários e, tocando na atualidade, das "pessoas e instituições que são conforto para os migrantes e refugiados da guerra". Mas, pensando nas Jornadas Mundiais da Juventude, que decorrem em Portugal em 2023, foi a 12 jovens - representando os 12 apóstolos - que quis lavar os pés.
Seis dos participantes, como é o caso de Renata Silva, estão ligados ao movimento Jovens em Caminhada, que gere uma casa de acolhimento, nas traseiras da Sé de Braga. "É para jovens desfavorecidos, muitas vezes, marginalizados, com problemas de toxicodependência", elucidou José Alves, que também recebeu o lava-pés. Houve, ainda, seis escuteiros que foram convidados e saíram "tocados" pelo gesto, referiu Beatriz Pereira, uma escolhida.
"A Igreja precisa de nós e nós precisamos da Igreja e de nos sentir acolhidos. Este acolhimento no período de Páscoa foi muito especial", assumiu Renata Silva. Palavras que deixaram D. José Cordeiro com um sorriso. O arcebispo está certo que o papel da Igreja "não é fazer preparações para a primeira comunhão ou para o crisma", mas antes "formar adultos na fé".
Enterro do Senhor
Esta sexta-feira à noite, pelas 21.30 horas, sai da Sé de Braga a procissão do Enterro do Senhor, a última da Semana Santa e uma das mais emotivas, onde o silêncio impera. Os farricocos voltam à rua, mas as matracas seguem silenciosas e as bandeiras e estandartes arrastam-se pelo chão. Os capitulares e os membros das confrarias desfilam de cabeça coberta e as figuras alegóricas ostentam um véu em sinal de luto.