Os acidentes com bicicletas e trotinetas estão a aumentar nos meios urbanos e levaram, em 2022, 995 vítimas à urgência do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), que serve o coração da capital. Destas, 359 foram internadas com lesões de maior gravidade - quase um ferido grave por dia.
Corpo do artigo
A maioria dos acidentes com bicicletas e trotinetas não é denunciada à Polícia e não entra nas estatísticas da sinistralidade. A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) quer acabar com a opacidade e celebra, esta sexta-feira, um acordo inovador com o CHULC, que deverá estender-se a outros hospitais do país.
O hospital, onde funciona o Centro de Responsabilidade Integrado de Traumatologia Ortopédica, vai fornecer, mensalmente, dados (não personalizados) à ANSR sobre as vítimas de acidentes com bicicletas, trotinetas e outros veículos semelhantes, que permitirão traçar o perfil dos sinistrados e conhecer as lesões e a natureza dos sinistros.
A informação é essencial para traçar políticas públicas e regras rodoviárias na mobilidade suave, explica Rui Ribeiro ao JN. Decisões como o uso obrigatório do capacete ou a redução de velocidade de circulação "têm de ser baseadas em dados fiáveis", sendo necessário conhecer o perfil das vítimas para "adequar a comunicação". O presidente da ANSR, que estima ter os dados no verão, quer estender a cooperação a mais hospitais e ao INEM, logo que o modelo esteja afinado.
Pões atropelados
O "aumento significativo dos acidentes" com bicicletas e trotinetas preocupam Rosa Valente de Matos, presidente da administração do CHULC, que está integrado numa zona com "colinas, vias estreitas e antigas, muito frequentada por turistas e jovens. São condições propícias para ocorrerem acidentes". Por isso, não hesitou face à possibilidade de colaborar com a ANSR na "concretização de medidas que possam evitá-los" e contribuir para "o desenho de políticas públicas".
O Centro de Responsabilidade Integrado de Traumatologia Ortopédica do Lisboa Central está a elaborar um estudo sobre a caracterização e as sequelas das vítimas assistidas naquela unidade. E não são só os tripulantes das bicicletas e das trotinetas. Entre os feridos, há casos de peões colhidos nos passeios e nas ruas da capital, afiança João Varandas Fernandes. O diretor daquele centro de responsabilidade integrado sublinha que este fenómeno recente de sinistralidade tem, muitas vezes, consequências graves para quem se desloca nestes veículos , mas "também para os peões".
Muitos estrangeiros
"Houve um crescimento gradual destes acidentes entre 2017 e 2019. Seguiu-se um abrandamento em 2020, mas já estamos nos níveis de pré-pandemia", com maior incidência nos meses de primavera e de verão. À urgência do Lisboa Central, chegam, sobretudo, jovens adultos entre os 18 e os 30 anos, de nacionalidade estrangeira, com lesões na bacia, nas pernas e nos pés. No entanto, "entre 8% a 10% dos doentes observados na urgência, os mais graves, apresentam traumas cranioencefálicos [ou seja, na cabeça], na face, nos joelhos e nos tornozelos e necessitam de internamento. Na maioria das vezes, precisam de intervenção cirúrgica. No ano passado, dos 995 vítimas assistidas, 359 foram internadas.
Nem sempre a recuperação é rápida. João Varandas Fernandes sublinha que todos os doentes operados necessitam, pelo menos, de três meses de reabilitação. O Centro de Responsabilidade Integrado de Traumatologia Ortopédica do CHULC também presta assistência, ocasionalmente, a vítimas de acidentes de bicicletas e a praticantes de ciclismo e de BTT de outras zonas do país, nomeadamente das regiões Centro e Sul.v