Nas mãos da mesma família desde as origens, a Biscoitaria Valonguense, em Valongo, mantém o mesmo processo tradicional de fabrico do biscoito há mais de 100 anos. Maria Guimarães tomou conta do negócio há três anos e revitalizou-o.
Corpo do artigo
As origens da Biscoitaria Valonguense, localizada no centro da cidade de Valongo, remontam a uma padaria existente já no Século XVIII no concelho de Valongo, cidade que viu nasceu a indústria da panificação. Mas só no século seguinte, pelas mãos de familiares dos fundadores, se dedicou à produção do tradicional biscoito. "Em documentos que tivemos a curiosidade de pesquisar, constatamos que já existia esta padaria no século XVIII, mas foi a partir do casamento de dois filhos de padeiros - José Gonçalves Pereira Romeiro e Ana Marques Moreira -, em 1893, que se foi introduzindo a produção do biscoito", explica Maria Guimarães, a atual gerente da empresa, continuando: "Essa altura foi propícia a alargar-se a produção dos biscoitos juntamente com a do pão, pois também se falava da diminuição do consumo do pão que ia de Valongo para as cidades vizinhas, pois começou a haver um aumento de padarias noutros locais".
Nos últimos anos a Biscoitaria Valonguense esteve "em pausa", mas a atual dona decidiu revitalizar o negócio e investir na produção dos biscoitos que fizeram desta empresa uma referência na doçaria tradicional portuguesa. "Lembro-me de quando cá chegámos termos passado por tempos difíceis, pois as pessoas pensavam que já não exista a fábrica e nós tentámos através de eventos e divulgações dar a provar e a conhecer onde poderiam encontrar os produtos, de forma a que as pessoas tivessem interesse e nos procurassem mais", salientou Maria Guimarães, que conta com a ajuda de Ana Santos e Carla Ferreira na confeção dos doces.
E são muitas as variedades de biscoito que saem das mãos das três mulheres. "Os Cacos, a nível da biscoitaria da casa, acabam por ser a referência número um. Depois temos os fidalgos, os cacos integrais, os picos, os digestivos, os torcidos, os areados, entre outros. Antigamente, eram mais de 30 as variedades produzidas na Biscoitaria Valonguense. Neste momento não estamos a produzir todas elas, tentamos fazer o que tem mais procura, pois afinal isto é um negócio e temos de o gerir de acordo com o que o mercado nos pede", anota a gerente, que juntamente com as duas funcionária faz de tudo um pouco na fábrica, desde fazer as diferentes massas, moldar os biscoitos, cozê-los no forno a lenha com capacidade para cerca de 35 tabuleiros, embalar e vencer os biscoitos.
E é o trabalho artesanal do início ao fim do processo que torna esta iguaria tão apetecível. "A nossa diferença está em mantermos a receita como se fazia há 100 anos. As biscoitarias podem ter produtos comuns, mas cada uma tem a sua receita, a forma de o fazer e de o cozer, o que difere no produto final, quer ao nível do paladar, quer da textura", justifica Maria Guimarães, completando: "Nós fazemos muito manualmente o produto e cozemos em forno a lenha. Infelizmente, o que foi mudando ao longo dos anos foram as matérias-primas e as regras e leis de produção, que nos foram impondo".
Apesar de todos os ajustamentos que tiveram de ser feitos, houve algo de que esta biscoitaria nunca abdicou: de trabalhar a massa numa grande mesa de madeira. E a gerente explica porquê: "A massa tem uma textura e temperatura que deve ser trabalhada numa superfície o mais parecida possível com as nossas mãos, o que acontece com a madeira. É uma superfície porosa e não nos altera muito o produto e a própria massa. Dá trabalho manuseá-la, pois temos de ter imenso cuidado, mas analisamos o produto final para ver se há algum tipo de alteração e o "feedback" que temos tido é que está tudo em ordem. Ao mudarmos a base de trabalho teríamos de acrescentar mais farinha ou outro produto, que depois nos iria alterar o produto final. E nós queremos manter exatamente o produto como ele era. Daí continuarmos a fazer desta forma".
A qualidade dos biscoitos da Valonguense fica bem patente pelo aumento considerável da procura. "Chegamos ao final da semana com roturas de stocks, o que quer dizer que estamos a ter uma boa procura no mercado e cada vez mais nos procuram mais pelo tipo de produto que fazemos. O que é muito importante", salienta Maria Guimarães, finalizando: "Cada vez há mais uma procura maior por este tipo de produtos, pois também há mais uma procura por um estilo de vida saudável. Então tentam encontrar produtos que não tenham tantas alterações como é habitual encontrar no mercado".