Bloqueio na Valadares pode inviabilizar pagamento do salário de Dezembro na sexta-feira
Os trabalhadores da Cerâmica de Valadares, em Gaia, afirmaram estar dispostos a desbloquear a entrada e saída de mercadorias da fábrica se o salário de Dezembro for pago esta quarta-feira. A administração diz que não tem dinheiro para o fazer e admite que a continuação do bloqueio deixa em risco a proposta inicial, de pagar Dezembro até sexta-feira e Janeiro até dia 17.
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Raul Almeida, da Comissão de Trabalhadores, afirmou aos jornalistas que se administração aceitar pagar esta quarta-feira o salário de Dezembro, as portas serão "desbloqueadas", sabendo que há três camiões carregados que estão prontos a sair da fábrica.
A administração da Cerâmica de Valadares, contactada pelo JN, diz que não tem dinheiro para pagar esta quarta-feira e admite que a continuação do bloqueio pode fazer cair a proposta inicial, de pagar até sexta-feira o mês de Dezembro e o de Janeiro até ao dia 17 de Fevereiro, recusada pelos trabalhadores esta semana.
"Há encomendas para sair. Os prazos de entrega não estão a ser cumpridos e os clientes começam a ficar preocupados", disse ao JN fonte próxima da administração da Valadares, temendo que "as encomendas comecem a ser canceladas".
Em face do bloqueio, a empresa considera já a hipótese de nem sequer manter a negociação de uma encomenda que poderia ajudar a resolver a situação. Como disse ao JN, o administrador António Galvão Lucas, na terça-feira, estava disposto "a sacrificar margens" de lucro para aceitar uma encomenda com pagamento antecipado, que poderia funcionar como um pré-financiamento da Valadares.
Com o bloqueio, aparentemente sem data para terminar, a administração teme não poder cumprir com o acordado, por isso pondera nem sequer concluir a negociação, iniciada na segunda-feira.
Em declarações à Lusa, Raul Almeida, da CT da Cerâmica de Valadares, afirmou que a reunião ao início da tarde com a administração não deu em nada, porque os pagamentos das mercadorias que saem agora da fábrica são feitos a "30, 60 ou 90 dias, o que torna impossível pagar hoje os salários de Dezembro".
Na reunião, os trabalhadores apresentaram uma proposta que passava por "deixar sair camiões com mercadoria, continuando no local, mas sem espalhafato, se os salários de Dezembro fossem hoje pagos", precisou.
"Decidimos que vamos aqui continuar até às nossas últimas forças" a bloquear a entrada da unidade fabril, sustentou Raul Almeida, acrescentando que deverá realizar-se um novo plenário às 17 horas para fazer um "ponto da situação".
Segundo Raul Almeida, na reunião, a administração admitiu que se o bloqueio permanecesse a empresa poderá ter que fechar as portas.
"A administração disse também que nós estamos a cometer uma ilegalidade e que poderia chamar a polícia", acrescentou. Uma opção que, para já, a Administração disse não considerar, preferindo uma forma pacífica e dialogante de sair do impasse.
Cansados dos atrasos nos pagamentos, dezenas de trabalhadores estão concentrados junto ao portão da fábrica desde segunda-feira, impedindo a entrada e saída de mercadoria.
Em meados de Janeiro, a administração da Cerâmica Valadares informou os trabalhadores de que haveria "alguém interessado" em viabilizar a empresa, mas não avançou desde então mais pormenores sobre o eventual negócio, segundo fonte da CT.
* com Lusa