A fábrica de tecidos para automóveis Borgstena, em Nelas, a braços com quebras nas vendas, vai reduzir os operários de 288 para 180. A medida surge um dia depois da ameaça de 600 dispensas na Citroen em Mangualde.
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Durante toda a manhã de ontem, a administração da Borgstena apresentou aos trabalhadores um plano global de contenção de custos com três medidas de fundo: eliminação do trabalho por turnos; redução do número de efectivos por acordo e a não renovação dos contratos em fase terminal; e redução do tempo de trabalho.
Jorge Machado, administrador da empresa, propriedade de um grupo sueco, justificou as propostas apresentadas com a quebra significativa registada no volume de vendas.
"Fizemos uma actualização do orçamento, onde se verifica uma redução de 55% em relação ao volume de vendas de 2008. Em função dessa situação, tivemos de actuar e ver que acções podíamos fazer para compensar em termos de redução de custos essa redução de vendas", concretizou ao jornalistas aquele administrador.
O responsável manifesta-se optimista quanto a uma "retoma" da carteira de encomendas, em data ainda incerta, embora reconheça que as projecções feitas em Outubro do ano passado, que implicaram uma redução de 30% do orçamento, tenham sido ultrapassadas após as férias do Natal.
"Em Novembro e Dezembro, as encomendas baixaram ainda mais e as medidas inicialmente tomadas não foram suficientes", reconhece o administrador, para justificar as medidas adicionais.
O plano, ontem revelado, não apanhou de surpresa os trabalhadores que, nos últimos dias, já vinham sendo contactados, individualmente, no sentido aderirem a propostas de emagrecimento do quadro de pessoal.
Os trabalhadores confirmaram os contactos da administração, embora a maioria discorde do montante de indemnizações.
Alegam, entre outras razões, que um mês por ano de trabalho dá direito a quantias "irrisórias" devido aos "baixos" salários praticados pela empresa. "Tenho 58 anos, trabalho na Borgstena há oito anos e três meses, e agora querem dar-me quatro mil euros. Nem a um ceguinho se dá tão pouco dinheiro. É uma injustiça", lamentou Armando Eloy.
Para que os trabalhadores possam defender os seus direitos foi constituída, ainda ontem, uma comissão mandatada para dialogar com a empresa. "Vamos preparar propostas alternativas e apresentá-las até ao dia 22. Para isso, deverá realizar-se brevemente um plenário onde tudo será discutido", explicou Vítor Morais, delegado sindical da Borgstena e membro daquela comissão.
O sindicalista reconhece que o mercado subsidiário da indústria automóvel "não escapa à crise mundial que afecta o sector", mas avisa que os trabalhadores "não podem rescindir a qualquer preço".
Fornecedor de diversas marcas de automóveis, com destaque para a Volvo, a Borgstena sofreu em 2006 e 2008 dois violentos incêndios que destruíram as suas instalações. Neste momento continua a laborar, em espaços alternativos, até à conclusão, em Junho, das obras de reconstrução em curso.
A crise na Borgstena sucede-se à que anteontem foi espoletada na Citroen em Mangualde. Nesta, o desemprego ameaça cerca de 600 trabalhadores.