Cidade está a pouco mais de duas horas da capital espanhola devido ao comboio rápido que a partir de hoje pára em Sanábria.
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Bragança passa, a partir de hoje, a estar mais próxima da capital espanhola do que de Lisboa, com a realização das primeiras viagens regulares do AVE (comboio de alta velocidade) que para na estação espanhola de Otero de Sanábria, a cerca de 40 quilómetros de Bragança. A distância entre a cidade transmontana e a capital portuguesa é de cinco horas de automóvel e seis de autocarro (não há comboio), mais do dobro da viagem e do preço em alta velocidade até Madrid (ver infografia).
Dobro do tempo e do custo
A distância entre Puebla de Sanábria e Madrid pode ser feita em 1 hora e 50 minutos, a que se somam os cerca de 50 minutos que leva a percorrer os 43 quilómetros entre Bragança e Sanábria pelas duas estradas de ligação, Portelo ou Rio de Onor. Ambas más.
Apenas o avião entre Bragança e Lisboa se aproxima em rapidez da viagem feita no AVE, mas mesmo assim fica aquém em vários aspetos. É bastante mais cara (87,09 euros, só ida) contra 24 a 40 euros (os preços da Renfe são dinâmicos e dependem do dia em que são comprados e das promoções). Por outro lado, a aeronave que assegura a carreira diária para Lisboa só tem cerca de 20 lugares.
29 anos sem comboio nacional
Este aumento da centralidade de Bragança face à Europa alcançou-se com as quatro ligações diárias no AVE para Madrid. A melhoria da acessibilidade com a capital do país vizinho era previsível desde que a obra foi lançada em 2017.
As ligações da cidade transmontana para Sanábria podem ser um desincentivo porque o caminho é sinuoso (ler texto ao lado). "A abertura da estação é mais uma oportunidade para fazer pressão para que se construa a ligação rápida", afirma Hernâni Dias, presidente da Câmara.
Há 29 anos que Bragança ficou sem comboio. A estação da cidade, interface da Linha do Tua, encerrou em 1992. O antigo canal ferroviário que liga Macedo de Cavaleiros e Mirandela está a ser transformado numa ecopista. O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, anunciou em abril que o objetivo é ligar todas as capitais de distrito por caminho de ferro. Faltam Bragança, Vila Real e Viseu.
ACESSO
Estrada entre Bragança-Sanábria é reivindicação antiga
É antiga a reivindicação da construção de uma estrada rápida entre Bragança e Puebla de Sanábria. Tem mais de duas décadas. Em 2020, a via voltou a ser prometida, dessa vez pela voz do primeiro-ministro, António Costa, que a incluiu no Plano de Recuperação e Resiliência, por ser uma das pequenas estradas que na sua opinião "mudam a geografia" da zona transfronteiriça.
Hernâni Dias está farto de promessas e gostava de ver algo mais concreto no terreno, pois o concelho está num enclave, sem ligação rápida por estrada à alta velocidade espanhola e sem caminho de ferro nacional. "Ficamos com a estrada pendurada. Nós não podemos ter aqui uma estradinha. Precisamos de uma estrada capaz e de resolver a questão da ligação a Espanha de uma vez por todas", acrescentou o autarca, indicando que "já há alguma orientação sobre o assunto" e que iria ontem voltar a falar nele durante uma reunião na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. "Para começarmos a trabalhar", garantiu.
Oportunidade para as empresas transmontanas
A aproximação a Madrid pode ser uma janela de oportunidade para as empresas transmontanas, tanto mais que na comunidade da capital espanhola residem cerca de 6,6 milhões de pessoas, existindo assim a perspetiva de um mercado alargado.
"Nós precisamos de nos virar para a Europa, principalmente as empresas, para sermos o centro de Portugal. Temos todos a ganhar com a melhoria das acessibilidades nesta zona da Península Ibérica que é interior, mais pobre e menos desenvolvida", defendeu o presidente do NERBA-Associação Empresarial de Bragança, Hélder Teixeira.
O NERBA tem trabalhado na realização de protocolos com congéneres espanholas de modo a melhorar as relações transfronteiriças.
"Temos que apostar na raia. A abertura da estação de Sanábria é uma oportunidade de ouro para Bragança, agora é preciso aproveitar esta ligação rápida à Europa, desde que as empresas desejem. Agora sem uma ligação por estrada capaz à Sanábria é mais complicado", acrescentou Hélder Teixeira.
Mais turistas
Também o presidente da Câmara Municipal de Bragança, Hernâni Dias, espera que o "TGV espanhol" ajude a trazer mais turistas à região e contribua para o crescimento dos negócios com esta zona da Península Ibérica.
"As expectativas são elevadas face à proximidade da estação de Sanábria e Bragança, o que permite uma maior acessibilidade ao centro da Europa, um ganho de centralidade no contexto ibérico e pode representar desenvolvimento empresarial, sobretudo, para o setor do turismo", vincou Hernâni Dias.