Nenhuma das quatro famílias que concorreram ao concurso "Bragança. Liberdade para Recomeçar", lançado pelo município, que convidava casais do litoral a passar um mês no concelho com tudo pago, acabou por fazer as malas para a cidade transmontana.
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Testar uma vida sem stresse e ver as possibilidades de se fixar no interior foi "uma experiência ótima", contou um ano depois Mia Freitas, uma das participantes, que se instalou num pombal na aldeia de Santa Comba de Rossas. Porém, não boa o suficiente para se mudar.
Os outros três casais aceitaram também o desafio em plena pandemia, logo após o confinamento de abril do ano passado. Tal com Mia e Frederick Flade, o companheiro, a maioria ainda não regressou ao Nordeste Transmontano. "Ainda não tivemos oportunidade, porque temos tido muito trabalho", admitiu Mia.
A adrenalina de uma terra nova ainda levou o casal Mia e Frederick, produtores criativos, residentes em Lisboa, a indagar sobre localizações, preços de terrenos e casas na altura da estadia. Ficou tudo em águas de bacalhau. "Outros casais também andaram à procura, mas mudar é complicado. A nossa vida profissional tem sido caótica e temos de estar presencialmente em Lisboa", relatou Mia, sublinhando que, "como férias, Bragança continua a ser uma hipótese".
Os outros novos povoadores foram Ivo Pereira e Rita, respetivamente jornalista e assessora de comunicação, único casal que na altura escolheu uma casa na cidade. Os restantes preferiram a pacatez de aldeias.
Mário Cunha e Diana Carneiro, fotógrafo e instrutora de ioga de Gaia, mais a filha, alojaram-se na aldeia de Montesinho. Chiara Pussetti, professora universitária, e Hugo Carosa, produtor audiovisual, habitantes de Lisboa, organizaram-se numa rotina mais calma na aldeia de Rio de Onor.
Diana e Mário adoraram o tempo que passaram em Montesinho, onde já regressaram uma vez. "A nossa filha comeu no outono as cenouras que ajudou a plantar em maio. Foi fantástico", explicou Mário, que veio a Bragança uma segunda vez para ministrar uma formação de fotografia.
Preço das casas
O casal garante que tinha "uma vontade genuína de viver uns tempos no interior". Ainda fez uma ronda para saber o preço de casas, mas desistiu da ideia. "Em Montesinho não há oferta, só havia uma casa pequena e a 600 euros por mês. Não há escola e para a nossa filha apanhar um transporte público teria de demorar muito tempo na viagem e acordar cedo", afirmou o fotógrafo, que criticou a "falta de apoio logístico na procura de habitação após o concurso.
O autarca de Bragança, Hernâni Dias, considera que a iniciativa foi a melhor e a mais barata promoção que se fez do concelho. "Por cinco mil euros, cofinanciados por fundos europeus, mostrou-se o potencial do território para os que podem trabalhar em qualquer local e mostrou-se que esta zona é apetecível para viver. Ninguém estava à espera que 50 ou 100 famílias se mudassem de repente", referiu Hernâni Dias.
Pormenores
De todo o lado
A campanha "Bragança. Liberdade para Recomeçar" recebeu mais de 1870 candidaturas de vários pontos do Mundo, como Brasil, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Polónia, Rússia e Noruega. Das 1576 candidaturas portuguesas, 43% foram provenientes do distrito de Lisboa e 22% do Porto.
Candidatos jovens
A média de idades dos candidatos era de 36 anos, num intervalo compreendido entre os 17 e os 73. Dos concorrentes, 57% eram solteiros e 33% casados. 34% tinham filhos. As áreas de formação e trabalho eram diversas.