O primeiro contacto com a Bugiada e a Mouriscada foi aos cinco anos, na companhia do pai. Foi desde esse momento que Alexandra Almeida se deixou conquistar pelo São João de Sobrado. Hoje tem 46 anos e é bugia. Todos os anos, a 24 de junho, dança o dia inteiro e no final, como não poderia deixar de ser, chora sempre.
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"É um grande sacrifício, mas vale a pena. Estou o ano todo à espera para ir de bugia", conta Alexandra Almeida que, no ano passado, recuperou de uma queda num mês para não perder a festa. "Não há igual", junta.
Reza a lenda que, nos tempos da ocupação muçulmana, houve uma guerra entre mouros e cristãos.
A filha do rei mouro - chamado de Reimoeiro -, estava doente e dizia-se que os cristãos tinham um santo milagreiro, o São João. O Reimoeiro pediu a figura emprestada ao Velho da Bugiada - o rei dos cristãos -, e a filha recuperou. A imagem milagrosa não foi devolvida e, para retomar o santo, várias pessoas mascararam-se e seguiram para a guerra.
No Dia de S. João recria-se a lenda. A encenação de rua começa às oito da manhã e só termina às dez da noite.
centenas de figurantes
César Ferreira, de 42 anos, é, pela primeira e última vez, o Velho da Bugiada. "Um lugar que conquistei por direito ao longo de décadas, ao mostrar que queria atingi-lo. Tenho mais de 30 anos de bugio", explica, revelando que há quem infrinja as regras ao alugar uma máscara e se misture na encenação sem ninguém dar por nada.
"Em meados do século passado, tínhamos por volta de 40 figurantes. Hoje são entre 700 e 800", conta César Ferreira. Os ensaios, com a presença de muitos sobradenses, representam "o momento de avaliação das danças", justifica o Velho da Bugiada. No último ensaio, no meio do público, Cristina Rocha assistia ao ensaio do filho de 16 anos, que pertence ao exército dos Mourisqueiros pela segunda vez. "Têm de dançar durante alguns anos para poderem chegar a Reimoeiro. Não podem faltar", diz Cristina Rocha, realçando a exigência da encenação. Assistir aos ensaios não significa que, no Dia de São João, a surpresa seja mais pequena. Até porque, assegura Cristina, "há sempre aquela ansiedade".
"Só mesmo quem é daqui é que consegue perceber o sentimento", justifica a sobradense.
Ricardo Alves, de 28 anos, é o Reimoeiro e diz ser "a paixão" o motivo para participar na encenação ano após ano. "Para quem é de Sobrado, é único", explica o jovem que participa na festa há 12 anos. Ao contrário do que acontece na maioria dos casos, quem "arrastou" Ricardo para as Mouriscadas foram os amigos.
A Bugiada e Mouriscada, na segunda-feira, é o ponto alto das Festas de S. João que por estes dias animam Sobrado.