Mataram 540 javalis e veados, mas só podiam abater 105. Proprietários da Herdade da Torre Bela admitem processar a organização e os caçadores.
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O grupo de 16 caçadores que participaram na caçada que decorreu no dia 17, na Herdade da Torre Bela, na Azambuja, só tinha autorização para abater 105 animais de grande porte, e não 540 como sucedeu, apurou o JN. Face aos danos causados, os proprietários admitem a possibilidade de agir judicialmente contra a empresa espanhola Monteros de la Cabra, organizadora do evento.
Fonte ligada ao processo revelou ao JN que a Herdade da Torre Bela comprou, em janeiro deste ano, 550 selos de caça, passados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), dos quais 85 foram utilizados em caçadas que decorreram nesse mês e em fevereiro. No caso específico da montaria da semana passada, foram cedidos apenas 105 selos, que autorizavam a caçada de 65 javalis e de 40 veados e gamos. Ou seja, foram caçados cinco vezes mais (435 animais) do que era suposto.
"É inequívoco que o grupo de caçadores excedeu em larga medida os direitos de caça adquiridos, ultrapassando os limites acordados por contrato com a entidade exploradora e que se coadunam com o permitido pela licença de zona de caça que se encontrava à data, em vigor", confirma a Herdade da Torre Bela, em comunicado.
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Face a esta situação, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, deu indicações para revogar a licença de caça no local e para suspender o Estudo de Impacto Ambiental, que se encontrava em fase de consulta pública, com vista à construção de uma central fotovoltaica na propriedade, cujo investimento previsto era de 170 milhões de euros.
Matos Fernandes garantiu ainda que técnicos do ICNF estiveram na Herdade da Torre Bela a recolher provas que conduzam à identificação dos caçadores, com o objetivo de fazer uma participação ao Ministério Público.
Além de "repudiar firmemente a forma errada, ilegítima e abusiva como decorreu uma montaria na sua propriedade", a quinta da Azambuja está empenhada em que sejam apuradas responsabilidades, e pondera adotar as "medidas judiciais adequadas, para ser ressarcida de todos os prejuízos".
"Desde 2001 que a Herdade da Torre Bela desenvolve uma atividade cinegética, entendida como uma prática que contribui para a manutenção da biodiversidade e sustentabilidade ambiental, não tendo em nenhum momento sido detetada qualquer irregularidade", assegura.
PROCESSO
Caça concessionada
A concessão da licença de caça da quinta da Azambuja foi entregue pelos proprietários a uma empresa do setor, que terá permitido a caçada a um grupo espanhol que teria autorização para o efeito, mas não cumpriu as regras.
Nega participação
"A Herdade da Torre Bela não era a entidade exploradora da referida caçada nem organizou ou nela participou e, por isso, não tem qualquer responsabilidade no sucedido", informa em comunicado.