O Governo anunciou esta terça-feira o cancelamento da licença de caça turística à Herdade da Torre Bela, em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, onde, na semana passada, terá decorrido uma montaria que culminou na morte de 540 animais, entre javalis e veados. Fonte ligada ao setor da caça, ainda que alheia à iniciativa, e que solicitou o anonimato, disse ao JN que cada participante terá pagado entre sete e oito mil euros para fazer parte do evento.
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O caso, considerado por João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, como "vil e ignóbil", levantou uma onda de choque generalizada e levou também o Executivo a ordenar ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a inspeção das cerca de 1500 propriedades existentes no país, de forma a evitar que situações idênticas se repitam.
A situação, que o JN noticiou na edição de ontem, veio a público depois de caçadores espanhóis terem partilhado nas redes sociais fotos junto aos 540 animais abatidos. A montaria terá ocorrido na última quinta-feira, e na mesma, de acordo com Luís de Sousa, presidente da Câmara da Azambuja, terão participado 16 caçadores. O autarca confirmou que, anteontem, pediu esclarecimentos aos administradores da herdade - cujos proprietários se desconhecem - e que, ao final do dia, recebeu um e-mail da mulher do administrador em que assumiam o sucedido.
Estes crimes podem ser imputados aos proprietários, a quem organizou ou aos próprios caçadores
Ontem, técnicos do ICNF estiveram na herdade a recolher provas, que, segundo o ministro do Ambiente, servirão de base para a uma queixa no Ministério Público para que se investigue a existência de crimes. "Estes podem ser imputados aos proprietários, a quem organizou ou aos próprios caçadores", sublinhou João Pedro Matos Fernandes. O governante adiantou ainda que, de acordo com a lei, "não têm de ser comunicadas ao ICNF as caçadas e as montarias" e admitiu que este "é de facto um erro que, para ser corrigido, obriga a uma mudança da lei".
Abrir caminho a central voltaica
A par de vários partidos políticos, também a Federação Portuguesa de Caça (FENCAÇA) repudiou o sucedido, adiantando que a "caçada terá ocorrido para poder ser construída uma central fotovoltaica no local".
Em nota citada pela Lusa, a federação considerou que os princípios da caça terão sido violados, bem como os princípios gerais da Lei de Bases Gerais da Caça. "Apesar de a Herdade da Torre Bela ser uma propriedade murada, nunca aí poderia ocorrer um "extermínio" das populações de caça maior", afirmam os responsáveis.
Por sua vez, a Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade defendeu que deveria ser inviabilizado o parque fotovoltaico previsto para o local.
O JN tentou ouvir os responsáveis pela Herdade da Torre Bela, mas não obteve resposta aos telefonemas.
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