Projeto para pessoas com demência e seus cuidadores funcionou apenas online durante o último ano.
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O Café Memória, em Mirandela, volta este sábado às sessões presenciais. Este projeto, que chegou à cidade em 2019, é um espaço de encontro para a partilha de experiências e suporte a pessoas com problemas de memória ou demência, seus familiares e cuidadores.
Mirandela foi o primeiro concelho do Interior Norte de Portugal a aderir a este projeto que tem como parceiros o Município, a Sonae e a Alzheimer Portugal. Entre novembro de 2019 e março de 2020, reunia as pessoas uma vez por mês, mas esteve parado mais de um ano por causa da pandemia.
A organização levou-o para o online, pois era necessário continuar a prestar apoio a quem tanto precisa. "Reinventámo-nos no formato online e passou a existir todas as semanas. A equipa técnica com os seus voluntários foi tentando manter algum contacto telefónico com todas estas pessoas para tentar minimizar um pouco as consequências deste isolamento a que todos fomos submetidos", diz Marisa Fernandes, do Gabinete de Alzheimer de Mirandela, que não tem dúvidas que o isolamento provocado pela pandemia agravou as coisas.
"O isolamento foi uma situação a que nenhum de nós estava habituado, por isso também os cuidadores das pessoas com demência sentiram dificuldades neste período", afirma.
As poucas sessões presenciais que aconteceram, nos primeiros meses, foram bastante participadas e produtivas. "Infelizmente não tivemos tempo de os fidelizar muito bem com as famílias, porque entrámos logo na época de pandemia, mas foram muito frequentadas. Percebemos que era uma mais-valia para pessoas com demência e para os seus cuidadores, porque é um espaço em que podem relaxar um bocadinho", sublinha Marisa Fernandes.
A autarca de Mirandela classifica este projeto de "vital importância para as pessoas com demência e seus cuidadores" e Júlia Rodrigues sublinha o papel de outros parceiros para que fosse possível a implantação do Café Memória na cidade. "Contamos com o apoio de várias empresas e instituições por uma questão social e de solidariedade e também foi fundamental a envolvência do gabinete de alzheimer de Mirandela".
Para a neurologista da Unidade Local de Saúde do Nordeste, o Café Memória é uma ajuda muito importante, sobretudo no apoio a quem cuida destes doentes. "À medida que a doença avança, quem começa a consumir mais tempo nas consultas é o cuidador, que não sabe como é que há-de lidar porque o doente um dia não quer tomar os remédios, outro dia não dorme e anda a passear pela casa de noite, e o cuidador começa a ficar, muitas vezes deprimido, ansioso, a dizer", conta Ilda Matos para quem o problema é que muitas vezes estas pessoas "não têm ninguém com quem falar e ainda há algum estigma associado à demência, ainda há algum preconceito, um esconder do doente".
Por isso, Ilda Matos entende que "o facto de os doentes e o cuidador poderem partilhar com outra pessoa, que tem a mesma experiência, que tem a mesma vivência, é fundamental para o doente e para o cuidador. Melhora o cuidado ao doente e melhora a saúde mental do cuidador", considera.
As estimativas indicam que 160 mil pessoas sofrem desta doença em Portugal, o quarto país com mais casos na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).
A retoma do Café Memória acontece amanhã (sábado), às 10 horas, junto à Ecoteca, em Mirandela. A participação não requer inscrição.