Depois do Embaixador, hoje é a vez do Capitólio, junto aos Paços do Concelho, encerrar, após ter sido despejado pelo senhorio. Avenida dos Aliados continua em transformação.
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O Café Capitólio, na Avenida dos Aliados, no Porto, fecha hoje definitivamente as portas após 80 anos de atividade. Conhecida como a sala de visitas da cidade, a avenida continua em mudança com os antigos locais de lazer dos portuenses a serem substituídos por modernas unidades hoteleiras viradas para o turismo.
Depois do Café Embaixador, despejado há pouco mais de uma semana pelo senhorio, chega agora a vez do Capitólio. Não tem a distinção municipal do Porto de Tradição mas era quase diariamente frequentado por funcionários, vereadores e até pelo presidente da Câmara, Rui Moreira. Por lá passaram anteriores autarcas, que viam no Capitólio, localizado mesmo ao lado dos Paços do Concelho, um local para tomar o café da manhã, descontrair entre reuniões ou almoçar.
"O senhorio não renovou o contrato. Estivemos a protelar a situação, mesmo em tribunal, durante cinco anos e agora é chegada a hora de fechar", diz José Gabriel Cruz, desviando o olhar de comoção e com voz embargada. Trabalha ali há 51 anos e com outros cinco funcionários vão para o desemprego. "Comecei a trabalhar aqui com 14 anos, no dia 1 de outubro de 1971, ainda era servido café de saco", acrescenta. O Capitólio foi das primeiras cervejarias, de balcão comprido, teto alto e com paredes revestidas a espelhos.
Clientes para todos
"Nessa altura centenas de pessoas trabalhavam na Baixa, nos serviços. Comecei a servir à mesa com 13 anos, em 1965. Não faltavam cafés na avenida, mas havia clientes para todos", salienta Albino Rocha, hoje frequentador do Capitólio e também ele despejado da sua casa pelo senhorio na Rua Formosa, vivendo hoje em Gaia. Mais à frente, António Vasconcelos, responsável pela gestão, vai arrumando gavetas e faz contas.
O prédio, também chamado de Capitólio, foi vendido há seis anos, tendo os antigos proprietários alterado o contrato com a gerência. A especulação imobiliária, a requalificação do património muito em função do turismo e o NRAU (Novo Regime do Arrendamento Urbano) têm estado na base desta transformação do centro da cidade com muitas casas históricas a fechar. O período de pandemia e a atual crise económica também não facilitam a vida a estes negócios.
Ligeiramente abaixo na avenida, o Guarany vive agora momentos de maior sossego. Chegou a haver ameaças de despejo, que não estão definitivamente afastadas, mas as obras de restauro realizadas pelos gerentes e a classificação da Autarquia travaram os ímpetos do senhorio. "Para já a situação está normal, mas há sempre uma incerteza. Nem quero pensar no caso disso acontecer pois teríamos o Pedro Abrunhosa algemado à porta", diz o gestor Fernando Barrias.
Ateneia em agonia
Do lado oposto, junto ao anterior edifício-sede do "Jornal de Notícias", o Café Aliança, com cerca de 50 anos, "continua a trabalhar bem". Está encurralado entre unidades hoteleiras e estabelecimentos de souvenirs de cidadãos do Bangladesh. "Houve uma primeira tentativa do senhorio há uns tempos, mas o nosso contrato de arrendamento ainda é dos antigos e só termina em 2028", conta o sócio-gerente André Silva.
Já na Praça da Liberdade a situação é mais complicada. A Cervejaria Sá Reis fechou durante a pandemia e agora são as obras de construção da Linha Rosa do metro do Porto que atormentam os empresários. A confeitaria Arcádia encerrou em 2019 e a vizinha Ateneia está em dificuldades. Inaugurada em 1937, desde logo se impôs como casa de chá da burguesia portuense, mas o futuro é incerto. "Fizemos um despedimento coletivo no verão e estamos a fazer um esforço enorme para manter a porta aberta porque as quebras no negócio são superiores a 70%", explica Joana Barros, gerente da Ateneia, que por esta altura está a vender bolo-rei e pão de ló apenas por encomenda.