De importante "villa" romana a paraíso de veraneio para as famílias burguesas, a zona mais oriental da cidade do Porto sofreu grandes mudanças ao longo dos séculos.
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Campanhã tinha cerca de 32 600 habitantes em 2011, ano do último recenseamento populacional. Espelhando a realidade do Porto, não só perdeu residentes como assistiu ao envelhecimento da população. Em 1981, quando começou a acentuar-se a curva descendente no concelho, viviam em Campanhã quase 50 mil pessoas.
Esta freguesia foi uma das quatro que mais perderam habitantes em termos absolutos (com Cedofeita, Bonfim e Santo Ildefonso). Razões económicas obrigaram muitos casais jovens a ir viver para fora do concelho, enquanto a demolição quase total de dois bairros sociais também contribuiu para as alterações demográficas verificadas nos últimos anos.
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Dados fornecidos ao JN pela Junta de Freguesia revelam que Campanhã tem um elevado índice de desemprego e a população está bastante envelhecida. Mais de metade dos idosos vive em solidão e 35% dependem de assistência de terceiros. Quanto à escolaridade, praticamente metade dos habitantes tem menos do que o 3.º Ciclo e só cerca de 12% completaram o ensino secundário.
Pela resenha histórica publicada no site da Junta, ficamos a saber que a presença humana na vasta zona que hoje conhecemos como Campanhã está documentada nos períodos mais recuados da Pré-História. No século XI, o território era já sede de uma "villa" relativamente importante ("villa" era o termo com que os romanos designavam as grandes propriedades agrícolas) e, nos finais da Idade Média, a expansão da área cultivada associada à riqueza dos recursos naturais contribuiu para que a região se convertesse numa reserva agrícola do burgo portuense, tendo como função abastecer a cidade de géneros alimentares básicos.
O crescimento em termos agrícolas, que continuou a verificar-se por toda a Idade Moderna, foi acompanhado pelo aumento da população. Em meados do século XVIII, a região tinha 2169 habitantes e nessa altura já se destacavam mais dois grupos profissionais: pescadores e moleiros, os primeiros localizados junto às margens do Douro, os segundos com os seus moinhos espalhados ao longo dos vários cursos de água que atravessavam a freguesia.
Nessa altura, as indústrias predominantes eram a moagem e a tecelagem. Passados os períodos bélicos - com toda a devastação causada pelas invasões francesas e depois pelos confrontos do Cerco do Porto (1832 a 1833) -, o século XIX assistiu ao aparecimento de pequenas fábricas de outras atividades, desde a produção de cal ao fabrico de fósforos e aos trabalhos em filigrana. Também a destilaria e os curtumes, a saboaria e o fabrico de cera.
O desenvolvimento industrial ficou a dever-se, em boa medida, ao caminho de ferro. O primeiro comboio a sair da estação de Campanhã (então designada estação de Pinheiro, devido ao vale com o mesmo nome) seguiu para Braga em maio de 1875.
O fortalecimento das ligações a Braga e a Penafiel significou também um grande movimento de mão-de-obra do interior para o Porto, sobretudo para o vale de Campanhã, e o surgimento de novas fábricas. Com o aumento de operários surgiram outras necessidades, como o alojamento. Assim nasceram as "ilhas" e os "pátios" que tanto marcaram a imagem da freguesia.
Já no século XX, começou a ser uma das zonas preferidas para a construção de bairros camarários, o que levou a novo crescimento da população. Os conjuntos de habitação social hoje existentes são: Antas, Cerco, Contumil, Engº Machado Vaz, Falcão, Ilhéu, Lagarteiro, Monte da Bela, Pio XII, S. João de Deus (problemático devido à droga, foi demolido ao tempo de Rui Rio e deu lugar a um novo bairro), S. Roque da Lameira e S. Vicente de Paulo (parcialmente demolido e requalificado, tendo ficado reduzido a um bloco).
A indústria foi perdendo estatuto, para dar lugar aos serviços, e hoje o comércio tradicional é também uma área de grande importância.
A riqueza de Campanhã vê-se ainda no património edificado. Um dos marcos mais significativos é o Palácio do Freixo, desenhado por Nicolau Nasoni, que está classificado como monumento nacional, mas há muitas outras quintas com magníficas construções, como são os casos da Bonjoia, da Revolta, de Vilar d'Allen, da Lameira ou das Areias (antiga Furamontes e onde atualmente se situa o horto municipal), exemplos do luxo e do requinte arquitetónico que caracterizavam os solares.
Até a Quinta da Bela Vista, agora ocupada pela PSP, se impõe pela dimensão e pela localização altaneira do grande edifício que foi construído entre 1912 e 1914 para albergar um estabelecimento de ensino, o Instituto Moderno, e que viria a ser adquirido pela GNR em 1919.
É também em Campanhã que se situa o Estádio do Dragão, a casa do F. C. Porto. Desenhado pelo arquiteto Manuel Salgado, foi inaugurado em 2003, num jogo particular em que o convidado de honra foi o F.C. Barcelona, derrotado por dois tentos sem resposta.