Freguesias rurais de Braga e Vila Verde temem avanço de indústrias que lhes roubem o sossego. Municípios prometem cumprir regras ambientais e urbanísticas.
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Há 34 anos, Adão Quintela comprou um terreno na freguesia rural de Vilaça, em Braga, para construir uma casa, sair do centro da cidade, e passar "a ter sossego e ar puro". Agora, o morador teme perder isso tudo, devido ao projeto de expansão de uma transportadora, que ali quer construir um centro logístico. Em Vila Verde, a população de Atiães também saiu à rua em protesto, no último mês, porque não quer ver nascer "um parque industrial" que lhe possa roubar o silêncio. Já os municípios garantem que as regras ambientais e urbanísticas serão avaliadas.
"Viemos para a aldeia para tentar melhorar a mente e a saúde. Agora vão pôr um monstro à frente das casas. Mesmo que seja um pavilhão para medicamentos, vai haver refrigeração 24 horas por dia", lamenta Adão Quintela, admitindo que "sempre [imaginou]" que os terrenos vizinhos viriam a ser ocupados por habitação. "Nós gostávamos que viesse para aqui gente nova", acrescenta Rogério Rocha, secretário da Junta de Vilaça, que, recentemente, questionou a decisão do Município, quanto à aprovação do investimento da Torrestir como sendo de "interesse público estratégico" (ler caixa).
A proposta do Executivo, que dá luz verde ao centro logístico no local, vai voltar a reunião do Executivo, com uma missiva da Junta. Os responsáveis querem que fique registado que "a nível social e de qualidade de vida, esta decisão vai ter um impacto brutal na vida pacata da freguesia". Questionam também "os impactos nas vias de comunicação", "no ambiente sonoro" ou até "na rede de águas pluviais".
Haverá estudos
João Rodrigues, vereador do Município, ressalva que o "reconhecimento estratégico" apenas significa que o investimento "é de interesse municipal". "Urbanisticamente, ainda, nada está decidido. Tudo o que for aprovado terá de merecer estudos e estar de acordo com regras urbanísticas", assegura, ao JN, frisando que, para já, "nenhum pavilhão está licenciado".
A mesma posição tem o Município de Vila Verde sobre o alegado parque industrial que está previsto para Atiães. Aquando o protesto da população, a 27 de abril, os responsáveis autárquicos asseveraram que, "juntamente com entidades externas", vão "assegurar que sejam cumpridos os termos e as regras do regulamento do Plano Diretor Municipal, designadamente em termos ambientais e de dimensão".
Mas as justificações não caem bem ao presidente da Junta de Atiães, que já tem consigo um abaixo-assinado subscrito por cerca de 300 moradores, dos quase 500 que compõem a freguesia. Samuel Estrada atesta que o terreno "é um monte e não tem nenhuma condição para ter um parque industrial".
Torrestir promete cerca de 200 empregos
Na proposta que foi levada à reunião do Executivo da Câmara de Braga, em abril, o Grupo Torrestir fala de um projeto de expansão da empresa para a freguesia de Vilaça, que deverá representar um investimento de "cerca de quatro milhões de euros" e a contratação de "cerca de 200" trabalhadores. O JN tentou contactar os responsáveis da empresa, mas sem sucesso. Contudo, a proposta revela que o grupo quer construir um centro de armazenamento e tratamento logístico, destinado a produtos da indústria farmacêutica.