Rui Moreira diz que obra está pronta e que programação será apresentada no final deste mês. Frescos pintados por Júlio Pomar serão mostrados pela primeira vez.
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O Batalha - Centro de Cinema vai reabrir na primeira semana de dezembro. Para o restauro ficar concluído faltam apenas os acabamentos e a decoração final, estando para breve o lançamento da programação. Na abertura, será projetado o filme "A Sibila", ao mesmo tempo que se comemora o centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, e a população poderá ver os frescos de Júlio Pomar que foram tapados com sete camadas de tinta pela censura de Salazar mas que com o restauro foi possível recuperar. Falta pouco portanto para que o Batalha seja devolvido à cidade, cerca de uma década depois do encerramento e que retome a sua função cultural centrada no cinema.
Tal como aconteceu com a recuperação do Bolhão, também o restauro do Cinema Batalha passou por diversos percalços. O edifício estava mais degradado do que se pensava e tinha a cobertura em fibrocimento, que teve de ser retirada. Outras alterações previstas tiveram de passar pela Inspeção-Geral das Atividades Culturais mas o pior estava para vir. Primeiro a pandemia, depois a guerra que dificultou a aquisição de materiais, nomeadamente os elementos em alumínio para as caixilharias e os componentes eletrónicos. E os preços não pararam de subir.
Garantia de Rui Moreira
A obra chegou a ser adiada cinco vezes, mas agora é Rui Moreira quem garante ao JN que a emblemática sala de cinema que a autarquia alugou por um período de 25 anos (edifício pertence à empresa Neves & Pascaud) vai mesmo abrir portas no início de dezembro, prevendo-se que esteja em plena atividade por altura do Natal. "O Batalha vai estar pronto dentro de semanas. Vamos abri-lo na primeira semana de dezembro e apresentar a programação este mês", anunciou o autarca.
A sala de espetáculo foi projetada pelo arquiteto Artur Andrade e inaugurada em 1947. No restauro, Alexandre Alves Costa, que já reconheceu que esta era a obra da sua vida, reformulou o espaço mas procurou manter os elementos originais. A conhecida Sala Bebé dará lugar a uma sala polivalente com bar e outras valências sociais. Em substituição, será construída uma sala-estúdio na parte posterior do segundo balcão, com capacidade para cerca de 135 pessoas.
A sala principal manterá os seus 341 lugares: 187 na plateia, 112 na tribuna e 42 no balcão. Criou-se acessibilidade a cidadãos com mobilidade reduzida e instalou-se um elevador. Mas o que muito provavelmente vai chamar a atenção aos visitantes deste renovado espaço serão os frescos de Júlio Pomar que a censura da PIDE do regime de Salazar mandou tapar com várias camadas de tinta.
Desta pintura, uma colorida representação dos festejos de São João do Porto, tapada em 1948, apenas se conheciam fotografias a preto e branco e a sua recuperação tinha sido considerada impossível. Em 2005/06 foi feita uma tentativa de desocultação sem êxito dos frescos, por iniciativa da Associação dos Comerciantes do Porto, na altura liderada pela filha do arquiteto que desenhou o edifício. Contudo, um minucioso restauro colocou a descoberto a pintura que reveste a maior parede junto à escadaria.
Números
5170 milhões de euros é o montante por que foi adjudicada a empreitada de requalificação do Cinema Batalha entregue à empresa Teixeira, Pinto & Soares, SA. A autarquia tem ainda um contrato de arrendamento do edifício por 25 anos a uma renda mensal de 10 mil euros.
Saiba mais
Sessão inaugural
O cinema foi inaugurado a 3 de junho de 1947. O filme de abertura foi o documentário "Douro, faina fluvial" (1931), de Manoel de Oliveira.
Arquitetura
A servir de gaveto em plena Praça da Batalha, o edifício sobressai pela sua arquitetura modernista. Para o seu projeto, Artur Andrade convidou os pintores Júlio Pomar, Augusto Gomes, António Sampaio e Altino e os escultores Américo Braga e Arlindo Gonçalves.
Atelier 15
O presente restauro está a cargo do Atelier 15, dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez.