Os animais queimados e intoxicados têm sido assistidos gratuitamente nas clínicas veterinárias do Funchal. Há muita gente a ajudar, mas falta material para tratamentos médicos.
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Os veterinários da zona do Funchal não têm tido mãos a medir com a ajuda a animais afetados pelos fogos na Madeira.
Centenas de animais têm chegado às instalações das clínicas e alguns têm sido resgatados nas ruas. Entre cães, gatos, hamsters e até papagaios, o auxílio tem sido prestado pelas várias instituições.
As portas estão abertas e os trabalhos são grátis. "Cabe-nos a nós ajudar", começa por dizer Andreia Araújo, veterinária de uma clínica no Funchal. Pelas suas mãos já passaram dezenas de animais com queimaduras e intoxicações por inalação de fumo.
Um dos casos mais preocupantes é o de um cão chamado "Orelhas" que tem várias queimaduras de terceiro e quarto grau.
Uma outra veterinária envolvida na missão, Benice Batista, explica que existem dois tipos de ajuda a ser prestada. No início é feita uma consulta para avaliar e tratar o animal ferido e, caso seja necessário, é oferecido alojamento e acompanhamento.
"O internamento está completamente cheio", declara ao JN a responsável de uma clínica. Neste momento, são muitos os animais que se encontram em estado grave e alguns donos, que perderam a casa no incêndio, não têm para onde os levar.
Mónica Natividade, auxiliar de uma das instituições, conta que as chamas estiveram a poucos metros do local onde trabalha. "O ar estava irrespirável e o fogo estava a aproximar-se. Precisámos de levar os animais para as nossas casas até que a situação se resolvesse", explica.
Os profissionais têm trabalhado horas a fio e alguns até desmarcaram férias para poder ajudar. "Ontem trabalhei 17 horas. São poucas noites de sono e pouca comida no estômago", revela Andreia Araújo.
O veterinário Eduardo Loreto refere-se a este fenómeno como "solidariedade implícita generalizada" e que, apesar de não publicitar a ajuda nas redes sociais, já auxiliou alguns animais e está disponível para ajudar os que estejam desalojados e com ferimentos.
No entanto, todo o país está a envolver-se nesta onda solidária. Quando foram confrontados com o trabalho de voluntariado, algumas pessoas demonstraram interesse em ajudar. Uma das clínicas confessa já ter recebido transferências bancárias e revela que um laboratório já garantiu o envio de medicação gratuita.
Os habitantes da zona estão também a levar refeições aos médicos. Estão em falta compressas, ligaduras, resguardos e pomadas.
Andreia Araújo diz que é urgente que alguns animais sejam adotados. "Apesar de toda a dor, quando são acolhidos por alguém, eles sentem-se confortados".
A população tem sido chamada a ajudar. Nas páginas de Facebook, as unidades veterinárias têm partilhado fotografias e informações de cães e gatos, para facilitar o reencontro com os donos.