Proprietários de restaurantes do bairro de Alfama, Lisboa, manifestaram-se, esta quarta-feira de manhã, em frente à Assembleia da República
Corpo do artigo
Pedem apoios ao Governo numa altura em que já fecharam vários restaurantes e casas de fado no bairro mais típico da capital e que "deu tanto a ganhar ao Estado com o turismo", lembrou ao JN a presidente da Associação de Comerciantes do Bairro de Alfama, Argentina Santos.
As empresárias da restauração que se concentraram junto à Assembleia da República lamentaram a falta de apoios da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Câmara de Lisboa e do Estado.
13023584
"Apresentámos projetos para o Natal à Câmara para dinamizar o bairro e rejeitaram-nos. Alfama está a agonizar, é desesperante. Já encerrei dois restaurantes, despedi 14 trabalhadores e resisto com muitos prejuízos", lamenta Judite Gomes, 62 anos, proprietária de três restaurantes em Alfama há 30 anos.
Judite aguentou "com muito esforço" nos últimos meses, mas está em vias de fechar o último restaurante que mantém portas abertas. "Agora só estou a trabalhar para pagar a EDP, a EPAL, e todas as taxas fixas. Somos obrigados a fechar. É muito bonito resistir, mas não podemos morrer à fome. Só pedimos que nos ajudem pelo menos a manter os negócios", pede.
Ilda Aleixo, proprietária do Madeira Pura, sente o mesmo. "Tinha quatro funcionários e agora tenho um. Não há turismo nem moradores, vendo três a quatro cafés por dia. Ainda experimentei o take-away, mas não resultou. Reinventarmo-nos assim é muito complicado", desabafa.
As manifestantes partilharam ainda que já vários colegas, que encerraram os estabelecimentos na sequência da pandemia covid-19, procuram agora emprego noutras áreas, como técnicas auxiliares em hospitais.
"Alfama está às moscas desde maio, estamos com a corda na garganta. Há 30 anos a trabalhar na área da restauração neste bairro, agora estou em vias de fechar e a procurar trabalho como auxiliar em hospitais, como outros colegas já fizeram", lamenta Argentina Santos.
Lúcia Serrano, 49 anos, proprietária do restaurante Sete Bicas, tentou reabrir após o confinamento, mas não conseguiu. "Eram muitos gastos e nenhum lucro. É muito ingrato, ao final de tantos anos a investir em Alfama, um bairro que projetou Lisboa e Portugal lá fora, sem nunca pedirmos apoios, estarmos esquecidos agora. Alfama é uma pérola da cidade que está a morrer ", lamenta.
Para Custódio Sousa, proprietário da pastelaria Guadalupe, "o pior está para vir". "O que mais me assusta é a falta de projetos para os próximos meses, que serão os piores. Agora ainda há estabelecimentos a resistirem, mas vão começar a fechar. Os apoios que existem estão sujeitos a muitas condições, como não ter dívidas, o que é difícil nesta altura", considera.
O protesto juntou cinco pessoas, que estiveram em representação de 50 estabelecimentos. "Por causa das novas regras decretadas na sequência do aumento de casos covid-19 não conseguimos vir todos", explicou Ilda Aleixo.