O fim de outubro é um tempo de nostalgia para os comerciantes que ainda têm estabelecimentos à volta do Edifício Jardim (prédio Coutinho), em Viana do Castelo.
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Junto ao antigo mercado municipal, que existia nas traseiras do prédio e que deu lugar a um bloco de apartamentos do Polis, a venda de flores, intensificada em vésperas do dia de Fiéis Defuntos, enchia as ruas, e o comércio da zona beneficiava do acréscimo de clientela. Hoje, tal azáfama já não existe. Há estabelecimentos fechados, porta sim porta sim, e nos que restam suspira-se de tédio.
"Nós resistimos na expectativa de que o prédio vá abaixo e venha para aqui o mercado outra vez. E eles [os moradores] resistem por outros motivos", diz Orlando Rocha, dono há 40 anos de uma loja de têxteis lar, na rua traseira ao prédio "Coutinho", garantindo que esse sentimento "é o dos comerciantes em geral".
"Ninguém concordou com a demolição, no princípio. Estávamos bem. O mercado era bom e bastava uma requalificação para o melhorar, mas agora só com seis [apartamentos ocupados] no prédio, de que é que estamos à espera? Sinto muito, mas não há volta a dar", acrescentou. As mudanças alteraram radicalmente as dinâmicas da zona, que "perdeu muito movimento". "O antigo mercado atraía tanta gente, que as pessoas esbarravam umas nas outras. Deixou muitas saudades. Deviam ver o que era a feira das flores: era uma enchente que ninguém se mexia", recordou.
Lojas de vários ramos - loiças, vinhos, mercearia, lavandaria, drogaria... - foram definhando e fechando portas. Quem resiste lamenta que se arraste o processo de demolição do edifício. "Já devia ter ido abaixo há muito tempo. Andamos nisto há 20 anos, a ser prejudicados por causa do prédio. Nós não podemos é dar a nossa opinião na rua porque temos uma casa aberta", disse um comerciante, referindo:
"Tiraram-nos o mercado, tiraram-nos as pessoas do prédio e nós estamos aqui sem fazer nada". Agastado com o impasse e a falta de movimento mostrou-se também o proprietário de um café da zona, que não quis prestar declarações.
Já Soledade Dias, de 73 anos, proprietária de uma loja de eletrodomésticos, ao lado do "Coutinho", aceita falar: "Estou aqui há 41 anos, e estes tempos foram os piores. Tiraram o mercado e desde que saíram as pessoas, que eram 300, e as lojas que existiam por baixo do prédio, isto ficou completamente parado e morto". E sentencia: "Se viesse para aí o mercado era o totoloto. Onde há um mercado, há gente".