Requalificação dos Amiais visa atrair turistas e residentes. Lugar junto à barragem só tem nove famílias. Dizem que está bonita e vai chamar gente.
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Sentada à entrada da aldeia dos Amiais, em Couto de Esteves, Sever do Vouga, Maria Madalena Costa elogia os trabalhos de requalificação que, até julho, darão uma nova imagem ao lugar onde vive. São "para bem da aldeia", que "estava mal, com o piso esburacado e um pouco ao abandono", diz aos 80 anos. As obras, de 100 mil euros, resultam de uma candidatura a fundos comunitários e visam dotar o lugar, que integra a rede das Aldeias de Portugal e está na Rota da Água e da Pedra das Montanhas Mágicas, de "melhores condições para atrair turistas e fixar residentes, dinamizando a economia", explica o presidente da Câmara, António Coutinho.
Ali moram apenas "nove famílias", os que sobraram da vaga de emigração para França e da mudança para as cidades, à procura de "melhor vida". Algumas pessoas, que herdaram ou compraram casas antigas, recuperaram-nas, mas só lá vão "passar uns dias de vez em quando". O cenário é traçado por outra Maria Madalena, Peres, 72 anos, que recorda tempos em que por ali corriam "muitas crianças". Lança os olhos em redor: "Está a ficar bonita e isso ajuda a chamar gente".
O trunfo da barragem
O casal Armindo Costa, 77 anos, e Cidália Fonseca, 76, dos poucos que partiram mas regressaram à terra natal, aponta a barragem de Ribeiradio, inaugurada em 2014, que criou um lençol de água ao lado, como fonte de esperança. "Se não fosse a barragem atrair algumas pessoas, isto era um sítio que metia medo de tão deserto", assegura Armindo.
O ponto principal da requalificação é a valorização da eira comunitária, um espaço com sete espigueiros onde estão a ser reabilitadas duas construções em pedra que funcionarão como casa de petiscos e posto de venda de artesanato. O "matagal" em frente, que dá para o espelho de água, foi limpo e é lá que está a ser instalado o parque de merendas, que terá casas de banho e balneários, conta o autarca.
Dali será possível aceder a baías para mergulhar na água e a trilhos com passadiços e uma ponte, que serão melhorados no âmbito de um segundo projeto de intervenção rural. A obra contempla ainda a melhoria de ruas, fontanário e lavadouro, assim como a criação de áreas ajardinadas e mobiliário urbano.
O autarca espera que a requalificação impulsione o investimento privado, levando à reabilitação de algumas casas que estão em ruínas, à criação de mais alojamento local e novos negócios. É, por isso, que os espaços destinados a petiscos e artesanato serão "cedidos por um prazo alargado", criando "novas formas de rendimento para os locais e comodidades para os turistas, que passam a ter onde comer e comprar recordações", algo que atualmente não é possível. Ainda ninguém se manifestou interessado em explorar os espaços, mas o edil está otimista.
Para evitar "fantasmas"
O concelho tem uma diversidade de atrativos que justificam uma estada de vários dias, acrescenta o autarca, apontando as cascatas, miradouros, a ciclovia no troço do antigo caminho de ferro, entre outros, não esquecendo a gastronomia, com a vitela assada, o cabrito ou a lampreia.
"Os turistas não gostam de ir para aldeias mortas, gostam de locais onde sentem a vivência e o pulsar, onde são bem recebidos", explica João Carlos Pinho, coordenador da ADRIMAG, a Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das Serras do Montemuro, Arada e Gralheira, que inclui a aldeia dos Amiais. Daí que a componente de fixar residentes não possa ser negligenciada.
Apesar de já se terem feito melhorias nos últimos anos, sem esta reabilitação profunda, "daqui a uns quatro ou cinco anos não teríamos lá família nenhuma. E, se não houvesse pessoas, haveria vandalismo, destruição do património e, em poucos anos, aquela aldeia, como muitas outras no país, seria uma aldeia fantasma só com ruínas", acrescenta.