Metade das crianças da ABAShalom são de etnia cigana e muitas outras provêm de famílias carenciadas.
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À chegada, as crianças cantam a "canção do bom-dia", indiferentes à cor, etnia ou estrato social de quem está ao lado. É assim na creche da Associação Baptista de Águeda Shalom, instalada em Vale Domingos, uma das zonas mais carenciadas de Águeda. Cerca de metade das 60 crianças que frequentam as instalações são de etnia cigana, mas ali, explica a educadora Tânia Oliveira, "não há distinções".
"Dizem que somos a creche dos ciganos e eu sinto honra nisso", revela o presidente da instituição, Acácio Oliveira, orgulhoso por ter conseguido criar laços de confiança fortes com a comunidade cigana. Agora, as famílias daquela etnia, que vivem em quatro acampamentos da zona, aceitam que as carrinhas da instituição recolham as crianças para irem à creche. Assim, começam a aprender e a socializar mais cedo e não apenas quando atingem os três anos, altura em que, por lei, têm forçosamente de entrar na Pré-escola.
Mães aguardavam à porta
Mas nem sempre foi assim. Segundo Bruno Monteiro, 41 anos, que tem um filho na creche, "os ciganos só entregam os filhos quando têm muita confiança". Quando a ABAShalom abriu, conta, algumas mães entregavam as crianças, mas "ficavam à porta à espera". Com o tempo "percebemos que nos respeitavam e que as crianças eram bem tratadas", acrescenta Bruno Monteiro. Marcos Ramiro, que também tem familiares na creche, diz que fica "descansado".
É bem possível que os filhos de Bruno e de Marcos se cruzem nos corredores com Helena Suarez, uma cigana de 49 anos, que está a trabalhar na creche, ao abrigo de uma formação da Cerciag. "Queria ficar. As pessoas são educadas e gosto de ter as crianças por perto", revela, ao JN.
A instituição surgiu em 2006 para apoiar uma das zonas mais carenciadas de Águeda, junto a um bairro social e vários acampamentos ciganos. Por ali passam "crianças ciganas e de famílias pobres de sete nacionalidades, desde moldavos a brasileiros e de países africanos". Mas também, sublinha Acácio Oliveira, "alguns filhos de doutores e engenheiros".
O responsável fica satisfeito porque, garante, tem recebido de uns e de outros "elogios pelo bom trabalho".
Ao apostar num projeto de qualidade e inclusivo, o responsável quer tornar as crianças autónomas e capazes de respeitar as diferenças da sociedade "sem constrangimentos ou medos". "Entre um ano e meio e os três anos, as crianças têm grande capacidade de aprendizagem", por isso, a formação não deve ser descurada nestas idades, sublinha Acácio Oliveira.
Alimentos, bens e serviços à comunidade
A instituição presta diversos serviços de apoio à comunidade. É o caso da entrega de alimentos do banco alimentar, banco de roupas e de produtos de higiene e serviço de lavandaria. Também possuem um espaço onde recolhem mobiliário, colchões, material ortopédico e eletrodomésticos usados, que vendem a preços simbólicos a pessoas da região que necessitem. A intenção é que essa loja social possa vir a incluir bens utilitários para a casa. No exterior existe um parque infantil para as crianças.