Ex-emigrante restaurou com as próprias mãos cinco casas na inverneira de Pontes, em Castro Laboreiro, Melgaço. Agricultor recuperou sete construções dos avós.
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Há aldeias em Melgaço votadas ao esquecimento que estão a ser reerguidas por novas gerações. O JN visitou duas, onde netos de antigos proprietários quiseram resgatar "por amor" as construções onde moram as memórias de infância. Doze casas na inverneira de Pontes, Branda da Aveleira e Gave foram reconstruídas e transformadas em alojamento turístico.
"Estas casas que estou a restaurar eram todas da minha família. Os meus primeiros passos foram dados aqui", diz Manuel Rodrigues, de 62 anos, ex-emigrante em França e Arábia Saudita. Natural de Castro Laboreiro, Melgaço, emigrou aos 15 e regressou à terra aos 25. Foi proprietário de um café durante 28 anos e depois abraçou uma missão que ainda não concluiu: erguer sozinho, com as próprias mãos, as casas da aldeia que o viu nascer. "A primeira que recuperei, faz três anos em outubro, era a casa dos meus avós. No primeiro ano andei aqui com um empregado. Recuperamos três. No ano seguinte andei sozinho, já só fiz uma, e agora continuo", conta.
Tijolo a tijolo, telha a telha, "Fampas", alcunha pela qual Manuel é conhecido, já reconstruiu cinco habitações no lugar de Pontes. Criou dois T1, dois T2 e um T3 para o turismo e deu-lhes nomes que remetem para outros tempos: Eira, Corga, Forja, Lume e Figueira.
"Saiu tudo das minhas mãos e da minha imaginação. Não há aqui arquitetos nem nada. A aldeia tem 15 casas e eu quero recuperá-las todas", garante Manuel, comentando: "A casa que mais gosto é a da Forja, porque é a mais pequenina. Parece uma casa de bonecas".
Boas recordações
Nascido no lugar que está a reconstruir, Manuel passou a infância entre a aldeia de Campelo (branda), onde os pastores passavam os oito meses menos frios, e a de Pontes (inverneira). "Sempre gostei da inverneira porque era a minha infância. Tenho muito boas recordações daqui", contou, de olhos reluzentes a mirar o casario e os caminhos onde em criança jogava "ao calvo [malha] e à pita cega [escondidas]". E lembra: "A minha avó tinha daqueles potes de três pés sempre a cozer batata miúda para dar aos porcos e havia um senhor que andava pelas portas e que chegava, pegava numa batata, esmagava-a e comia-a".
Na Branda da Alveira, a alguns quilómetros dali, foi Bruno Barreiros que não quis deixar cair no esquecimento o património familiar. Mandou reconstruir três casas e uma cardenha (casas de pedra onde viviam os pastores no verão). Hoje são as "Casas dos Barreiros". "Fui criado com os meus avós maternos e aqui era para onde vínhamos sempre. O meu avô faleceu em agosto. Tinha 79 anos", revela, triste, Bruno, que veste de preto pela perda. Uma das casas que recuperou, junto ao um riacho, foi "presente de casamento" ao neto e à mulher, Mónica Vilela.
Em Gave, o casal recuperou casas dos avós paternos dele. Até agora, somam 12 reabilitadas e têm planos de criar em torno de uma casa de grandes dimensões uma quinta pedagógica, com alojamento e animais.