A demolição de uma casa na Rua do Molhe, na Foz do Porto, destruiu parte das traseiras da moradia vizinha, impedindo a entrada e obrigando ao encerramento de um restaurante, revelaram esta terça-feira à Lusa os proprietários.
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Esta é a segunda vez que a obra no prédio com três frentes - Avenida Montevideu e Ruas do Molhe e de Gondarém - destrói parte da moradia vizinha, revelou à Lusa uma das filhas dos proprietários, Bárbara Rodrigues.
Depois de em março os trabalhos terem feito um buraco na parede da garagem, na segunda-feira as obras voltaram a provocar danos, com as traseiras da casa em parte destruídas e o acesso pela Rua de Gondarém desmoronada.
"Durante a hora de almoço sentimos uma grande trepidação e alertámos que o muro poderia cair. O muro caiu à tarde", contou à Lusa Bárbara Rodrigues.
"Neste momento há risco de segurança, tanto é que evacuaram o restaurante e o anexo", acrescentou, esclarecendo que no anexo moravam dois amigos, que tiveram de sair do espaço, e que o restaurante teve de encerrar por motivos de segurança.
Contactada pela Lusa, a sociedade responsável pela obra, a Socicorreia, afirmou que "ocorreu uma queda de um muro, que não colocou em causa habitações nem pessoas", ressalvando que os técnicos da Câmara do Porto e Proteção Civil estiveram no local e "validaram o cumprimento do plano de trabalhos, pedindo maior celeridade ainda, atendendo as chuvas persistentes que não ajudam nesta fase da obra".
"O projeto atualmente em desenvolvimento pela Socicorreia na Foz do Douro cumpre escrupulosamente com o projeto e plano de trabalhos devidamente aprovado pela Câmara Municipal do Porto", acrescenta.
Também à Lusa, a Câmara do Porto confirmou o "desmoronamento de um muro de suporte com consequente arrastamento de terras motivado pelas escavações que decorrem na obra existente".
"Não sendo possível apurar as condições das fundações do prédio e face ao risco de continuidade de arrastamento de terras/desmoronamentos, o Serviço Municipal de Proteção Civil, preventivamente, impôs a desocupação do prédio até que sejam executadas, pelo responsável da obra, as medidas adequadas que garantam a segurança do prédio afetado", refere, acrescentando que o responsável da obra iniciou hoje a reposição de terras contra o talude e cobriu as terras com plástico para prevenir infiltrações.
"O responsável da obra irá de imediato avançar com a execução de muros de contenção, por troços de dois metros, até à altura total do talude", refere.
Segundo a câmara, o restaurante deverá ficar fechado "pelo menos, durante mais 15 dias", prazo previsto para a execução dos muros.
A obra de demolição contou com o parecer favorável da Direção-Geral do Património Cultural e aprovação da Câmara do Porto, apesar de toda a frente do passeio marítimo e da Avenida Montevideu estarem classificados como conjunto de interesse público.
À Lusa, a Câmara do Porto adiantou que a obra de construção "encontra-se em fase de licenciamento".
De acordo com o relatório de caracterização do imóvel a destruir, consultado pela Lusa, "várias lacunas" determinaram a decisão de "intervir profundamente" no edificado.
"O imóvel a intervir não apresenta valor nem interesse histórico, construtivo, arquitetónica ou decorativo relevante, pelo que se entende que a demolição integral do mesmo será o procedimento mais adequado para o lote, para o empreendimento que se pretende realizar e, sobretudo, para a envolvente urbana em que se insere", lê-se.
Já na memória descritiva, a sociedade esclarece que o projeto prevê a construção de um edifício de habitação coletiva com três pisos acima da cota de soleira e dois pisos abaixo. Naquele espaço, onde outrora existiu uma moradia com dois fogos, serão construídos 19, cinco de tipologia T1, doze T2 e dois T3.
No inicio da obra, os proprietários da moradia agora afetada tentaram judicialmente impedir a demolição, apresentando uma providencia cautelar contra o município e a sociedade, que foi considerada improcedente.