Outro "dique colapsou" em Montemor-o-Velho mas não foi preciso evacuar mais povoações
Um dique do leito periférico do rio Mondego, em Montemor-o-Velho, soçobrou à força das águas, cerca das 22 horas deste domingo. Para já, não é necessário evacuar povoações.
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O talude esquerdo do leito periférico direito do rio Mondego, em Montemor-o-Velho, colapsou na noite de domingo, no local onde poucas horas antes tinha sido identificado um aluimento de terras, disse o presidente da Câmara.
Em declarações aos jornalistas, Emílio Torrão confirmou o colapso do talude esquerdo, numa extensão de 50 metros, bem como o transbordo de água para aquele canal a partir dos campos agrícolas que estão alagados, cerca de meio quilómetro a montante da ponte das Lavandeiras, na povoação de Casal Novo do Rio, que está a ser defendida através de uma barreira de pedras e sacos de areia, ali colocada por meios da Proteção Civil municipal.
"O dique colapsou e também transbordou", disse o presidente da Câmara de Montemor-o-Velho. "Vamos monitorizar daqui para a frente", acrescentou Emílio Torrão, convencido de que o leito principal do Mondego será capaz de acomodar a água que estava contida por este dique, nas imediações de Casal Novo do Rio. "Não será preciso evacuar nenhuma povoação", disse o autarca.
"Esta água vai voltar ao leito central" do Mondego, disse Emílio Torrão. "O escoamento é franco, é bom e é isso que nos dá esta tranquilidade", acrescentou o autarca, sustentando que a Proteção Civil municipal "está preparada" para o que vier.
Ministro garantiu suspensão de descargas nas barragens
Emílio Torrão disse ainda que a situação do colapso "está sob controlo" após ter pedido ao ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, que a EDP pudesse suspender as descargas na barragem da Agueira - pedido que, garantiu o autarca, "está a ser cumprido".
Segundo o presidente da Câmara, ao pedido para a suspensão de descargas na barragem da Aguieira juntou-se a maré vazante, o que possibilita "a maior capacidade de encaixe" no leito principal do Mondego, para onde corre a água do leito periférico direito. "Esta água vai voltar de novo ao rio Mondego", frisou Emílio Torrão.
Emílio Torrão explicou ainda a operação de reforço do talude direito do leito periférico, numa das extremidades da povoação de Casal Novo do Rio, oposto àquele onde o talude esquerdo colapsou, foi já realizada com "uma frente de pedreira".
As autoridades identificaram ainda outro aluimento de terras no talude esquerdo do leito periférico - que está sujeito à pressão das águas que invadiram os campos agrícolas do vale central da bacia do Mondego e que, segundo o autarca, está dimensionado para resistir à força das águas no interior do leito mas não às que o pressionam do exterior.
Este aluimento, a jusante da ponte das Lavandeiras, não originou ainda um colapso do talude esquerdo, mas a autarquia de Montemor-o-Velho está a preparar um segundo reforço do talude direito, na zona frontal ao aluimento, também com uma barreira de pedra.
Ambas as intervenções de defesa pretendem impedir o eventual colapso do talude direito do leito periférico do rio que, se romper, a exemplo do sucedido nas cheias de 2001, poderá levar a água a invadir a vila de Montemor-o-Velho e a povoação da Ereira, a jusante daquela.
"Para que quando a água vier com força, ao embater nessa margem [direita], ela não colapsar e evitar que a água entre na Ereira e em Montemor, argumentou.
Emílio Torrão disse que Carmona Rodrigues, projetista da obra de regularização do Baixo Mondego, esteve domingo em Montemor-o-Velho para "o seu contributo" às soluções que estão a ser implementadas para minimizar o impacto das cheias.
"Estamos a fazer tudo aquilo que não foi feito em 2001, ou seja, antecipar o problema. Se me perguntarem se eu estou convicto que estas são as melhores soluções, sim, estou convicto. Se vão ser as melhores soluções, só se Deus e a natureza mo permitirem é que vão ditar que temos razão", alegou o autarca.
No leito principal do Mondego, a água que está a entrar na abertura do dique que colapsou no sábado, junto a Formoselha, está a canalizar 400 a 500 metros cúbicos por segundo (m3/s) para a zona agrícola (vale central) que agora pressiona os taludes do leito periférico direito.
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Segundo a Autoridade Nacional de Proteção Civil, os caudais dos rios estão a "regressar à normalidade", mantendo-se apenas a situação da zona do baixo Mondego, no distrito de Coimbra, como a mais preocupante.
"A única situação que nos continua a preocupar é a situação de Coimbra, pois quer as situações do rio Douro, do Tâmega, do Tua e do próprio Tejo são situações que tendem para a normalidade. Os caudais estão a recuperar aquilo que são os seus limites normais", disse o comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção civil (ANPC).
Nesse sentido, Duarte da Costa sublinhou que, "ainda que a bacia do baixo Mondego apresente caudais elevados, são muito menores" do que aqueles que apresentava no sábado.
Durante o dia de domingo, a Proteção Civil registou 408 ocorrências, o que para comandante nacional significa que se está a "regressar à normalidade".
Para já permanecem 144 pessoas desalojadas e 352 deslocadas preventivamente, a maioria decorrente da subida do caudal do rio Mondego.
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Os fortes efeitos do mau tempo, que se fazem sentir desde quarta-feira, já provocaram dois mortos, um desaparecido, deixaram 144 pessoas desalojadas e 352 pessoas deslocadas por precaução, registando-se mais de 11600 ocorrências no continente português, na maioria inundações e quedas de árvore.
O mau tempo provocado pela depressão Elsa, entre quarta e sexta-feira, a que se juntou no sábado o impacto da depressão Fabien, provocou também condicionamentos na circulação rodoviária, bem como danos na rede elétrica, afetando a distribuição de energia a milhares de pessoas, em especial na região Centro.
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