Será lançado concurso que inclui a reabilitação do emblemático edifício, no Porto. Objetivo é que a sala passe a ser gerida por um modelo em tudo idêntico ao do Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota. Associação Amigos do Coliseu terá participação, nomeadamente na área da programação de eventos.
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A direção da Associação Amigos do Coliseu vai aprovar esta manhã a entrega da gestão da emblemática sala de espetáculos do Porto a privados. É dado desta forma seguimento à proposta apresentada na segunda-feira pela Câmara do Porto para que se lance um concurso público com vista à concessão, a única forma que permite que o espaço receba obras de reabilitação e requalificação. Uma opção da Autarquia que até tem o apoio do Ministério da Cultura.
As várias opiniões ouvidas pelo JN são unânimes num ponto: ninguém numa altura destas quer criar uma guerra com Rui Moreira, nem mesmo o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva. Por isso, na reunião desta manhã, a proposta apresentada por Nuno Lemos, representante da Autarquia, que detém a posição mais forte face aos restantes associados, será aprovada por unanimidade.
Segue-se depois a preparação de lançamento do concurso público com vista à concessão. O objetivo é, depois de fracassadas as possibilidades de encontrar investimento público, conseguir uma solução "urgente e levar a cabo as obras de reabilitação", para correção das patologias do edifício.
Desta forma, a Câmara do Porto mostra-se preocupada com o resultado das "intervenções pontuais" ao longo de 80 anos. Há fissuras nas paredes, estuques danificados e a cobertura deixa entrar humidade. A situação é tão grave que recentemente houve a necessidade da colocação de uma rede para impedir que os estuques atinjam trabalhadores, artistas e visitantes.
Ao JN, o ministro da Cultura diz que "vai acompanhar a posição da Câmara do Porto porque é a instância que melhor está posicionada para tomar opções desse tipo e fazer essa escolha". Pedro Adão e Silva explica que "o ministério não tem nenhum preconceito nem contra o modelo de gestão, nem quanto a forma de financiamento para reabilitação".
caderno de encargos
Tanto António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, como Daniel Pires, gestor cultural, diretor artístico e fundador dos Maus Hábitos e da Saco Azul, alinham com os restantes membros da direção. "Vamos votar aquilo para que fomos mandatados quando esta direção tomou posse: fazer a concessão", diz Maria João Castro, representante dos municípios da Área Metropolitana do Porto (AMP). É verdade que, antes, foi colocada em cima da mesa outra hipótese. Rui Moreira e a anterior ministra Graça Fonseca acordaram em dividir (abril de 2021) os 3,5 milhões de euros que custam as obras. Mas isso nunca chegou a acontecer.
"Dado o histórico dos últimos meses em que não foi possível encontrar uma solução pública e com o Coliseu a precisar de obras, não parece haver outra solução. Quer a Câmara quer o Governo concordam com a concessão e a AMP também apoia", refere Maria João Castro. Alerta porém para a necessidade de "um bom caderno de encargos que salvaguarde uma programação cultural eclética, variada e o papel da Associação dos Amigos do Coliseu, para que seja possível continuar a realizar espetáculo de ópera, bailado e circo, programação que é a imagem de marca do Coliseu".
BE e CDU discordam, PS aceita a solução
A opção que será seguida para o Coliseu desagrada a CDU e BE que, ao invés da entrada de privados no negócio da sala de espetáculos, defendem a intervenção pública e financiamento estatal da requalificação. O PS não é contra a concessão, quer é ver as obras concretizadas e que o caderno de encargos salvaguarde a dimensão patrimonial do Coliseu, como refere o vereador Tiago Barbosa Ribeiro. Além disso, o PS defende a proteção dos trabalhadores e um período de programação para os Amigos do Coliseu.
O BE foi o primeiro a pedir uma "audição urgente" do ministro da Cultura e da presidente da direção do Coliseu do Porto na Assembleia da República. Posição tomada ainda antes do JN revelar que Pedro Adão e Silva estava "alinhado" com Rui Moreira. No requerimento, o grupo parlamentar do BE defende que o Governo "tem de rapidamente concretizar o compromisso anunciado e dar o primeiro passo necessário para a reabilitação, obrigando a que as restantes entidades que detêm o Coliseu cumpram os seus compromissos".
Já ontem, também a CDU anunciou que na próxima reunião do Executivo a vereadora Ilda Figueiredo vai pedir que o representante da Autarquia se empenhe na defesa das obras necessárias à reabilitação do Coliseu e na obtenção de meios de financiamento público, designadamente fundos comunitários, garantindo que a gestão atual se mantém.
O JN também contactou, sem êxito, o PSD.
OUTROS PALCOS PARA AS ARTES DA CIDADE
Câmara arrendou Batalha por 25 anos
O antigo cinema Batalha, ainda em obras de requalificação, foi arrendado pela Câmara em 2017 por um período de 25 anos. A Autarquia pretende criar uma programação variada naquele que será o Batalha Centro de Cinema. Por diversas vezes adiada, a reabertura deverá acontecer em dezembro.
Sá da Bandeira vendido à Lello
Adquirido em hasta pública pela Livraria Lello em 2019, o Teatro Sá da Bandeira foi alienado pela Câmara do Porto, com o preço-base de 2,19 milhões de euros, mas a venda acabou por fixar-se nos 3,5 milhões. O comprador ficou obrigado à salvaguarda patrimonial do imóvel e a manter a função de sala de espetáculos.
Teatro Municipal em duas salas
Do designado Teatro Municipal do Porto fazem parte o Teatro Rivoli, que esteve concessionado a Filipe La Féria durante quatro anos, e o Teatro do Campo Alegre, que alberga residências artísticas de curta e longa duração. Renovado, o Rivoli reabriu à cidade em 2014. Além de diversos espetáculos, a sala tem acolhido o Fantasporto.
S. João gere mais dois espaços
Nas mãos do Estado desde 1992, quando assumiu a atual designação, o Teatro Nacional de S. João foi alvo de obras de remodelação nos anos seguintes. Em 2003, assumiu a gestão do também renovado Teatro Carlos Alberto e, em 2007, passou para a sua alçada uma parte do mosteiro de S. Bento da Vitória (ala nascente, parte da ala sul e o claustro nobre), que acolhe espetáculos de teatro, concertos e eventos especiais.
Pavilhão Rosa Mota está concessionado
Detido pela Câmara, o Pavilhão Rosa Mota - que muitas pessoas ainda tratam, carinhosamente, por Palácio de Cristal - foi concessionado por um período de 20 anos a um consórcio, que assegurou os custos da reconversão. A reabertura, em outubro de 2019, acrescentou ao espaço a designação Super Bock Arena, facto que gerou polémica.
Casa da Música gerida por fundação
Obra emblemática da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura (apesar de ter sido inaugurada só em 2005), a Casa da Música é gerida pela fundação com o mesmo nome, instituída pelo Estado e pelo Município e à qual se juntaram outras entidades públicas e privadas. Foi o primeiro edifício construído em Portugal exclusivamente dedicado à música.
Helena Sá e Costa pertence a escola
Entre os principais palcos da cidade está ainda o Teatro Helena Sá e Costa, pertencente à Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. Tem como missão fomentar e divulgar projetos nas vertentes da dança, da música e do teatro. Acolhe produções da escola e propostas externas, em particular resultantes das novas linguagens das artes performativas e multimédia.