A linha de metro até à Trofa estava prevista para a primeira fase da rede de metro, mas nunca chegou a ser construída.
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Quilómetros de tinta já correram sem que um só centímetro da prometida linha do metro tenha avançado até à Trofa, concelho que há quase 20 anos disse adeus ao comboio de via estreita para poder receber o novo meio de transporte que, então, se estreava no Porto, começando a interligar a malha urbana.
Refém de uma congestionada EN14, a população - sobretudo a que habita na zona sul do município, desde sempre mais voltada para a Maia, onde o metro parou, do que para a Trofa - nunca calou a revolta pela "injustiça" de ter ficado sem o transporte que a partir de 1932 permitiu fixar ali moradores. Afinal, são apenas uns 20 quilómetros até ao Porto, e o comboio chegava à Trindade em meia hora.
Os sucessivos executivos municipais - do PSD ao PS - foram reivindicando a obra prevista na primeira fase da rede do metro, mas o equilíbrio de poderes na Área Metropolitana do Porto nunca foi favorável ao pequeno e recém-criado concelho, e medir forças com Matosinhos, Maia e Gaia, três pesos pesados no dossiê metro do Porto, tornou-se uma batalha perdida.
Ao longo de duas décadas houve avanços e recuos, promessas quebradas e protocolos transformados em letra morta. Em 2017, a Câmara da Trofa pôs o Estado e a Metro do Porto em tribunal. "Das quatro linhas originárias desta rede ferroviária do sistema do metro ligeiro do Porto da primeira fase, projetadas em 1996 e construídas pela Metro do Porto, SA, só a linha Campanhã/Maia (ISMAI)/Trofa não foi construída em toda a sua extensão", lê-se na fundamentação da ação.
Os relatos dos comboios apinhados contrastam com os autocarros que hoje seguem quase vazios: os moradores queixam-se da oferta desajustada; a Metro foi suprimindo horários. Houve quem mudasse de terra. E há quem tenha terrenos cativos, por existir uma faixa de proteção não edificante de 20 metros de cada lado do canal reservado para o metro. Ou quem tenha visto cair o valor comercial que os imóveis tinham por se situarem junto a um transporte.
Todo o processo continua em aberto, como os cerca de 10 quilómetros do antigo canal ferroviário, devorados pela vegetação desde o Castêlo da Maia até quase ao centro da Trofa. Aventa-se agora a hipótese de o metro chegar em ferrovia até à zona do Muro, a cerca de quatro quilómetros do ISMAI, e fazer os restantes seis até à Trofa em metrobus. "Uma excelente solução", dirá o especialista em transportes Rio Fernandes, que vê neste um módulo "muito mais barato e igualmente cómodo", e "uma boa alternativa também para o Muro".
"Enquanto o ferroviário implica um investimento forte no carril e na catenária, o metrobus adapta-se ao chão, e só tem de ter um canal dedicado", sublinha o geógrafo, lembrando que este meio "pode estar a funcionar daqui a dois anos, enquanto que o metro só estaria a funcionar daqui a cinco". E aponta mais vantagens: "atinge boas velocidades, pode funcionar a hidrogénio e transporta tantas ou mais pessoas que o metro". "O metro em cidade menos densa, como é o caso da Trofa, não me parece a solução adequada", defende.
Que solução defende para o metro da Trofa? Se for eleito, que medidas vai tomar?
Sérgio Humberto, candidato PSD/CDS
O social-democrata sustenta que "o metro tem de chegar ao interface rodoferroviário", e diz não pôr de lado que "parte do percurso seja feita em BRT [Bus Rapid Transit, ou metrobus]". Mas adianta que "não faz sentido passar no centro da Alameda, desfazendo o parque Nossa Senhora das Dores, quando o túnel não foi acautelado". "O que defendo é que deve ter outro percurso, e deve ser feito um túnel, por baixo do monte de Valdeirigo, para ligar o metro ao interface", aponta, lembrando a "urgência no tempo". "Não podemos esperar mais cinco nem 10 anos. Numa primeira fase, que chegue em carril até à Serra", reivindica. E avisa: "se não houver medidas rapidamente para lançar obras no terreno, vamos endurecer esta batalha. Se não vai a bem, vai a mal". Uma das medidas passa por "ir para a rua, demonstrando insatisfação".
Amadeu Dias, candidato PS
Além de criar fatores de atratividade para "desenvolver toda a região da Trofa a sul", de forma a permitir, entre outros objetivos, "o crescimento de utilizadores do metro", o socialista quer ver o Muro com metro e ligado através de metrobus "ao comboio e a uma micro rede de autocarros de média dimensão que alargue a zona de influência da estação de Metro do Muro, criando ainda maior rentabilidade para a linha", conseguindo assim "provar que este investimento terá a procura necessária". Entre as medidas a adotar está a "negociação com o Governo, no âmbito dos fundos do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], para a obtenção de financiamento para a infraestruturação da nova área urbana da Trofa-Sul". Será um dos fatores que permitirá "demonstrar a viabilidade do investimento e da operação face ao aumento estimado de passageiros".
Fernando Sá, candidato CDU
"Sempre defendemos a vinda do metro até à Trofa em via dupla. A CDU e as forças que a compõem, o PCP e o PEV, encaram esta questão como uma prioridade dentro da estratégia de mobilidade que se ambiciona para o concelho", afirma Fernando Sá, do Partido Ecologista Os Verdes, que volta a encabeçar a lista da CDU às Autárquicas na Trofa. O candidato recorda o facto de a coligação ter estado "sempre ao lado da população para a criação do concelho", que se afigurava como "uma necessidade para assegurar a qualidade de vida dos trofenses", e garante que tudo fará para que "se cumpra uma promessa dada". "A população reconhece o nosso empenho, e não vamos desistir de lutar por soluções de mobilidade sustentáveis, acessíveis e há muito reclamadas, pelo que iremos tomar todas as medidas para que isso se concretize", assegura.