No mês em que comemora 65 anos de existência, Embaixador fechou as portas na sexta-feira, ficando a Baixa portuense sem outro dos seus simbólicos espaços.
Corpo do artigo
Quando em janeiro de 2019 o Café Embaixador, localizado na Rua de Sampaio Bruno, junto à Avenida dos Aliados, recebeu a distinção municipal Porto de Tradição, programa que para além de reconhecer o papel histórico propõe medidas de apoio e proteção, já a situação do estabelecimento era problemática e no tribunal decorriam ações de despejo por parte do senhorio que conseguiu todas as decisões judiciais favoráveis que levaram ao encerramento.
"Sabíamos que ao abrigo da nova lei das rendas que a batalha não seria fácil. Fomos recorrendo sempre e a verdade é que o senhorio ganhou sempre nas três instâncias", explicou ao JN Lino Perestrelo, um dos gerentes. "Na ação inicial, conseguimos detetar algumas ilegalidades e foi isso que nos foi dando esperança", acrescenta o responsável, que diz que o senhorio, que o JN não conseguiu contactar, "descendente da família Pinto Leite, quer agora entregar o espaço a quem oferecer mais dinheiro".
Tenho muita pena, porque nestes anos criei uma forte ligação ao café. O Embaixador era um dos últimos grandes que restavam na Baixa do Porto
Sentado junto à máquina registadora, Lino Perestrelo vai recebendo palavras de conforto dos clientes, que não se conformam com o encerramento. "Pedem uma renda de 30 mil euros por mês e parece que já há um interessado. De acordo com o que me disseram, isto vai ser um restaurante da cadeira de fast food Burger King", avança o gerente.
O Embaixador foi inaugurado no final de 1957, no edifício do antigo Banco Pinto Leite, substituindo outros cafés que existiram no mesmo local. O seu ex-líbris é um embaixador de bigode, smoking, laço na camisa branca e cartola, figura criada por um dos seus primeiros frequentadores, o poeta e ensaísta José Augusto Seabra. A estátua foi roubada em 2006 e em substituição está uma outra feita em acrílico.
"Foi o primeiro na Baixa com as características de snack-bar e a servir refeições, e tornou-se bastante popular e conhecido por ser frequentado por funcionários bancários, empregados de escritório e jornalistas", recorda o historiador portuense Germano Silva.
Inicialmente, tinha uma sala de jogos e na principal parede ostenta um painel de Martins Dacosta, classificado pelo município portuense, que patrocinou o seu restauro realizado no ano passado pelo Centro de Conservação e Restauro da Universidade Católica. No livro Cafés do Porto, lançado recentemente, o seu autor, César Santos Silva, recorda que, "por volta dos anos 70, um dos funcionários, o Boavida, vestia uma farda tão especial, que haveria quem lhe chamasse o Marechal!".
Por essa altura, passou a ser frequentado por reformados e retornados das antigas colónias. Sofreu obras de restauro profundas pela última vez em 1997.