<p>Ano após ano, sobem o rio Tejo para, em Constância, receber a bênção da Senhora da Boa Viagem. Esta segunda-feira, dezenas de barcos engalanados cumpriram a tradição, num cenário de grande emoção entre as centenas de festeiros.</p>
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Aos 61 anos, António de Oliveira ainda tem forças para se ajeitar no "alburigel" e pescar nas águas do Zêzere ou do Tejo. Garante que não vende peixe e tudo o que pesca é para "oferecer aos amigos".
Trajado a rigor, no seu barco engalanado com flores de papel e com a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, António vai contando que reside em Asseiceira, Tomar, mas é nas águas dos rios, junto a Constância, que gosta de estar. Todos os anos, sobe o Tejo, acompanhado de outros barcos, e no cais aguarda pela bênção.
Emocionado, recorda a doença que o deixou numa cama de hospital, há uns anos, na Suíça. "Faltavam 15 dias para as festas e eu não conseguia andar nem falar. Meti na cabeça que tinha de cá estar", conta, recordando que dias depois estava "sem doença nenhuma" e "até os médicos ficaram admirados". Não fala em milagre, mas, retendo as lágrimas, admite: "São coisas que metemos na nossa cabeça".
Muitos outros rostos emocionados olhavam, ontem, o rio Zêzere, enquanto aguardavam a chegada das embarcações. "Este é o ponto alto dos festejos", garante o também emocionado presidente da Câmara. António Mendes - que deixa este ano a Autarquia que dirigiu durante 24 anos - diz que este é o momento aguardado por muitos para o reencontro. "Há gente que só se cruza nesta altura do ano e nesta festa que tem muito simbolismo para as gentes ribeirinhas", sustenta o autarca.
A população, que desde Janeiro prepara as flores que ornamentam as ruas, mostra-se orgulhosa. Marisa Jesus e uma equipa de 30 pessoas "tomaram conta" da Rua do Arco. Mais de dez mil flores coloridas animam o espaço, que conta com a representação de um cortejo de oferendas e de uma Igreja da Misericórdia, feita com fósforos, pelo avô de Marisa, Adelino Moleiro.