Câmara diz que o PDM possui mecanismos para que investimentos estratégicos tenham terrenos. Empresário afirma que "especulação é surreal"
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A AMF, uma empresa de Tabuadelo, Guimarães, especializada em calçado técnico de segurança, não consegue encontrar um terreno no concelho para instalar uma nova unidade de produção que implicaria um investimento a rondar os 10 milhões de euros.
O gerente da empresa vimaranense, Albano Miguel Fernandes, queixa-se da especulação e afirmou ao "Jornal de Negócios" que pondera levar o investimento para outro concelho. Questionada sobre esta situação, a vereadora com o pelouro do urbanismo, Ana Cotter, afirmou, esta quinta-feira, ao JN que o Plano Diretor Municipal (PDM) "contempla soluções que permitem transformar solos rústicos para uso industrial, quando os investimentos são considerados de interesse municipal."
Albano Fernandes não quis falar ao JN, mas ao Negócios explicou que o investimento da AMF conseguiu aprovação como Projeto de Interesse Municipal (PIM), para a construção de uma nova fábrica com cerca de 40 mil metros quadrados, em julho de 2021. Contudo, este deferimento só resolveu a questão do uso dos solos, classificados como rústicos no PDM, para fins industriais. Havia também o problema de os mesmos terrenos estarem incluídos na Reserva Agrícola Nacional (RAN), dependente da Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural. O projeto aprovado a nível municipal acabou por ser reprovado pelo Estado central.
Ana Cotter confessa que apesar da disponibilidade do Município para a aprovação de projetos que se afigurem interessantes para o concelho, "só há garantias quando os solos, no PDM, estão incluídos em Parques Industriais."
Os terrenos no valor de um milhão de euros são agora um peso morto no balanço da AMF que coloca a possibilidade de levar o investimento de 10 milhões de euros para fora do concelho. Segundo disse ao mesmo jornal Albano Fernandes, em Vila do Conde é possível comprar terrenos a 20 ou 30 euros por metro quadrado, "aqui estão a pedir mais de 300." O empresário queixa-se de uma "especulação imobiliária surreal e estúpida". A AMF adquiriu uma participação na vilacondense Aloft, em 2015, já como consequência da dificuldade de expansão em Guimarães. A participada prepara-se, atualmente, para construir uma nova unidade fabril, um investimento de 6,5 milhões de euros que, segundo Albano Fernandes, também não acontece em Guimarães devido "à escassez de terrenos industriais."
Ana Cotter reconhece a dificuldade de encontrar terrenos e até os preços elevados. Todavia, para a vereadora, a situação deve-se "a Guimarães ser dos concelhos mais atrativos do pais." "Somos o sexto município, a nível nacional, em pedidos de licenciamento", afirma.