A Academia de Bailado da Lousã é a escola de ballet com mais rapazes no país: tem 18. “A maioria das escolas tem um, dois rapazes... ou nenhum. Quando vamos para fora ficam todos muito admirados e eu também não sei explicar”, diz a professora Joana Ruas.
Corpo do artigo
Joana Ruas, responsável pelo espaço, apoia-se no que lhe dizem os fornecedores de material para ballet, que trabalham com escolas de todo o país, e a Royal Academy of Dance, onde os alunos da ABL vão a exames, quando garante que esta é aquela em que o sexo masculino está mais presente. O aluno mais novo tem 2 anos e está na dança criativa. É por aí que as crianças pequenas começam.
Inicialmente, Francisco Soares, de 15 anos, só tinha interesse na dança contemporânea, mas acabou por gostar da clássica. “Ajudou-me a libertar, a saber controlar melhor o corpo, a livrar-me de certos preconceitos”. Como aquele segundo o qual o ballet é para meninas. Um “mito”, na expressão de Joana Ruas, que esclarece: “Os rapazes têm uns exercícios e as raparigas, outros”.
Hugo Carvalho, de 12 anos, foi o primeiro elemento masculino a entrar na ABL. Tinha três anos, seguiu as pisadas da irmã. “Gostei e não me arrependo”. Hugo concilia a dança com o futebol. Por vezes, a primeira actividade ainda é motivo de gozo. “Quando se irritam comigo, na escola, mandam umas bocas. Não ligo. Já estou habituado”, conta, sereno.
“Os rapazes mais novos não aceitam tanto que andemos no ballet”, explica Marcelo Leitão, que, aos 16 anos, dança sem qualquer “complexo”. “Não me importo com o que os outros dizem”, diz, garantindo que a dança o ajudou a “dominar melhor o corpo”. Permitiu-lhe, inclusive, atenuar um problema que tem desde pequeno: “Andava em bicos de pés e não notava. Quando entrei [para a ABL], passei a ter maior controlo, a apoiar o calcanhar”.
Ana Bolsa tem dois filhos, de 2 e 9 anos, a frequentar a ABL, e “alguns miúdos não aceitam muito bem” que o mais velho ande no ballet, “porque é sempre o futebol e ele não gosta”. Certo é que “ele, normalmente, está sempre a dançar” e “entrou porque quis”. Talvez porque, em casa, “havia abertura para a dança” e demais artes. Ambos “são desinibidos, têm ritmo”, diz, sorridente.
“Eles sofrem pressões, na escola. Já as raparigas sofrem”, reconhece Joana Ruas. No caso dos rapazes, costuma vir à tona “a questão das calças justas”, explica. Mas as raparigas não estão imunes a críticas, salvaguarda a professora: “Gozam muito [com eles], assim como gozam com as meninas. Na maioria das cidades e vilas, o ballet é uma actividade muito elitista. Aqui, não. Temos preços muito acessíveis e houve grande mistura de classes sociais”.
A ABL tem 230 alunos, de nove concelhos diferentes. Em vista está a mudança de instalações (“O espaço actual é muito pequeno”, contextualiza Joana Ruas) e de nome. Deverá passar a chamar-se Academia de Artes da Lousã e alargar o leque de actividades disponíveis, acrescentando à dança e à música as línguas, a pintura e a expressão dramática, entre outras.