Sindicato diz que estabelecer relação entre greve e morte de idoso de Foz Côa "é excessivo"
Rui Lázaro, do Sindicato dos Técnicos de Emergência pré-hospitalar, diz que não tem dados para dizer que houve atraso no socorro.
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Confrontado com a reação da família do idoso de 74 anos de Foz Côa, que desmentiu qualquer relação entre a morte de Fernando Urbano e a falta de suporte avançado de vida por causa da greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar ao trabalho extraordinário, o dirigente sindical ajustou posições e aproveitou para dizer que foi mal interpretado. "É muito cedo e precoce para o provar e relacionar o falecimento diretamente com a greve é profundamente excessivo", referiu Rui Lázaro. "Não temos dados que nos permitam falar em atraso no socorro, mas pelos dados que temos, a vítima que teve um problema gravíssimo, de prioridade máxima, devia ter tido uma resposta mais diferenciada da emergência médica e não teve efetivamente", defende.
Morte natural
Soube o JN, já esta quinta-feira de manhã, que a certidão de óbito descreve "morte de causa natural" e, como tal, nem o Ministério Público foi chamado a pronunciar-se. "Os únicos dados a que tivemos acesso é que desde que a ambulância terá chegado ao local até que entregou a vítima no serviço de urgência básica terão decorrido 45 minutos", precisou, acrescentando que " a questão aqui não está na demora mas nos cuidados que esta vítima poderia ter acesso se a ambulância de suporte avançado de vida estivesse operacional".
Recorde-se que Luís Urbano, filho do falecido, disse ao JN que a prestação de socorro "foi rápida" e que era "lamentável" que a morte do seu pai fosse aproveitada para "politiquices do INEM". Já o presidente dos bombeiros de Foz Côa, António Lourenço, foi mais preciso e garantiu que entre o alerta e a chegada a casa da vítima, "foram percorridos 18 quilómetros em cerca de 20 minutos" e que aí " foi seguido o protocolo", isto é, " várias tentativas para reanimar a vítima", que já não respondeu. Quanto ao tempo entre a chegada a casa de Fernando Urbano e o transporte do idoso ao centro de saúde, o filho Luís Urbano estabeleceu uma estimativa de meia hora.
Críticas ao INEM
O sindicalista Rui Lázaro diz que, tendo ficado parada a viatura estacionada no serviço de urgência básica de Foz Côa por falta de tripulação, é o presidente do INEM que terá muito a explicar. "Primeiro terá que explicar por que durante o dia diz que a greve teve 0% de adesão quando houve viaturas paradas pelo país todo e, em segundo lugar, como é que durante os sete anos do seu mandato permitiu que os meios em todo o país continuem escassos e a resposta continue dependente de um meio para cinco ou seis concelhos", sublinhou.
E referindo-se ainda ao caso de Foz Côa, Rui Lázaro evidenciou que " por acaso a ambulância estava parada, mas se tivesse ocupada com outra ocorrência iria acontecer a mesma coisa", disse ainda, resumindo a questão de fundo "à falta de técnicos de emergência pré-hospitalar".
Já quanto à intenção da família de Fernando Urbano poder avançar com procedimento criminal contra o sindicato que convocou a greve, Rui Lázaro reagiu manifestando-se espantado. "Não foi sequer solicitado pelo INEM a negociação de serviços mínimos, sabia há várias semanas que estes turnos estavam por preencher e, conhecendo o pré-aviso de greve nem sequer chamou o sindicato para tentar negociar o levantamento da greve e tentar negociar uma parte das reivindicações"., concluiu.