Entre Santo Ovídio e Vila d'Este, o concelho de Gaia está transformado num estaleiro, por conta das obras do prolongamento da Linha Amarela do metro.
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Parte da empreitada não se vê, pois os trabalhos decorrem no subsolo. Mas também há obra à superfície. Quem espreitar, desde a Rotunda de Santo Ovídio, verá um viaduto com uma estrutura metálica, assente em pilares, que já vai a meio. Com um comprimento de 420 metros, servirá para ligar à futura estação subterrânea de Manuel Leão. Em abril, a instalação ficará completa.
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Um a um, os módulos são montados no chamado "parque de deslize", situado acima da Rua da Fonte dos Arrependidos, e vão sendo lançados, encaixando uns nos outros. Simplificando, para melhor entendimento, o responsável pelo projeto de expansão da Linha Amarela, Pedro Quintas, diz que "é como se fosse um lego". No total serão agrupados 23 módulos, pesando três mil toneladas.
Sem o recurso às habituais gruas, este método, conforme admite, "não é muito usual", mas tem vantagens e tem provado ser eficaz.
Pedro Quintas detalha os procedimentos: "Utilizamos o método de lançamentos sucessivos, em que temos várias zonas dentro da nave industrial [parque de deslize]. Numa primeira fase, fazemos a assemblagem das peças que já vêm fabricadas. Depois temos uma segunda zona em que procedemos às soldaduras e, por fim, temos uma terceira "box", em que o módulo fica posicionado para o lançamento".
Menor impacto
A esta estratégia chama-se lançamento incremental. "A partir do momento em que está posicionada, vamos empurrando a estrutura, fazendo-a deslizar por cima dos apoios, já definitivos, que são os pilares em betão armado, e mais alguns apoios metálicos provisórios a utilizar temporariamente. Isto é como se fosse um lego, em que vamos montando as peças e vamos empurrando, fazendo-as deslizar sobre os apoios", elucida Pedro Quintas.
Para este responsável, há, pelo menos, duas grandes vantagens. "É um método aéreo de construção, que evita o recurso às gruas e a ocupação de espaço. Evitamos os constrangimentos nas estradas e mitigam-se os impactos ambientais, nomeadamente a ocupação de áreas agrícolas, neste caso da Quinta do Cisne. Essa foi a verdadeira razão", explica.
A curva e o declive do terreno são desafios adicionais, mas que não constituíram entrave. "O método já é complexo por si próprio e tem duas dificuldades extra: é que o desenvolvimento do viaduto é em curva e tem uma inclinação, neste caso na ordem dos 2%, que obriga a ter cuidados especiais, desde logo uma instrumentação online. Fazemos medições de deslocamentos e forças, que são monitorizadas. Qualquer correção é logo adotada, caso seja necessária", garante.
Se decorrer conforme o programado, estará para breve a instalação da totalidade do tabuleiro metálico. "Essa parte terminará em meados de abril. Temos ainda como objetivo permitir a libertação da interdição da passagem inferior rodoviária em Santo Ovídio para final de junho", adianta.
Para pôr o metro a circular, em cima das placas metálicas será colocada uma camada de betão, bem como os indispensáveis trilhos.
Metro vai chegar a Vila d'Este em 2024
À medida que os meses vão passando, encurta-se o tempo que falta até à data prevista para o fim da obra de extensão da Linha Amarela, em Gaia. Prevê-se que a empreitada acabe no final deste ano e que o metro circule em Vila d'Este em 2024.
Com partida em Vila d'Este e chegada ao centro do Porto, calcula-se que a viagem demore cerca de 20 minutos. O percurso até à Câmara de Gaia está estimado em metade desse tempo.
Em termos de mobilidade e ambientais, os ganhos esperados serão significativos. O prolongamento da linha de metro deverá levar à retirada da estrada de cerca de 17 mil carros por dia. Só em Vila d'Este moram mais de 15 mil pessoas, o que faz antever um aumento substancial do número de passageiros naquela que já é a linha mais procurada de toda a rede.
Para esta intervenção na Linha Amarela, o investimento ascende a 139 milhões de euros. A par das estações em Santo Ovídio e em Vila d'Este, o novo traçado também contará com as estações de Manuel Leão (subterrânea) e junto ao Centro Hospitalar Gaia/Espinho (à superfície).