Construção da futura estação de Santo Ovídio da Linha Rubi obriga à demolição de dez casas em Gaia. Moradores têm já reunião marcada para discutir os valores das indemnizações.
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"Tínhamos aqui tudo: metro, escolas, hospitais, centros de saúde e comércio". Já não se fala de outra coisa na Rua de António Rodrigues Rocha, em Santo Ovídio, Gaia. Dez famílias têm cerca de sete meses para encontrarem uma nova casa e entregarem as suas moradias à demolição. Dizem saber que "têm de sair até julho", já que a Metro do Porto quer avançar, em setembro de 2023, com os trabalhos de construção da Linha Rubi. Para isso, a empresa precisa que a parcela de terreno paralela à atual estação de Santo Ovídio, entre a Rua de António Rodrigues Rocha e o largo da igreja, esteja desocupada nessa altura.
A ansiedade instalou-se entre os proprietários - a maioria deles idosos -, que já abriram a porta a peritos avaliadores de imóveis. O valor calculado servirá de pontapé de saída para as negociações. Aliás, de acordo com os moradores, está marcada uma reunião para os primeiros dias de dezembro entre os residentes e a empresa para discutir as indemnizações. "Não há nada a fazer", conformam-se, perspetivando "o último Natal" na casa de família.
O presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga, admitindo que o caso de Santo Ovídio é, "de facto, crítico", afirmou à Lusa que a empresa quer que a avaliação seja "o mais justa possível", sendo esta uma situação de maior "urgência" na empreitada da Linha Rubi.
remodelação completa
"Foi o tio-avô da minha mãe que fez a casa. Ela veio para cá morar com 13 anos. Morreu há três anos, com 92", contou ao JN uma das moradoras, que preferiu manter o anonimato. No terreno da moradia há "dois furos com 20 metros de profundidade". A casa foi totalmente remodelada há meio ano e "ainda faltavam os muros, mas perante os trabalhos de prospeção, não se fez mais nada".
"Quando vi o vídeo de apresentação da linha, vi a estação aqui e pensei: "Mas, então, onde está a casa?" Foi isso que nos alertou", revelou ao JN a nora da proprietária de outra moradia, criticando a falta de diálogo antes da divulgação pública do projeto.
"Uma vizinha nem queria acreditar. Em julho tem de estar tudo desimpedido, mas julho é já ali", observa, confessando que a sogra, uma senhora de 80 anos, "já só pensa que este vai ser o último Natal aqui".
Os próprios comerciantes da zona admitem que o tema tem monopolizado as conversas com os clientes, que se mostram "tristes" com a situação, mas alertam que as obras "também vão prejudicar" as lojas.
A Metro do Porto acrescenta que "o processo das expropriações decorre normalmente, garantindo sempre o maior respeito pelas pessoas".
Obra
300 milhões de euros é o valor da verba financiada a fundo perdido pelo Plano de Recuperação e Resiliência para a construção da Linha Rubi e da nova ponte
Pormenores
Procura
De acordo com os estudos de procura divulgados pela Metro do Porto, prevê-se que, no ano de 2026, apontado como o ano de arranque da operação comercial da Linha Rubi, 11,4 milhões de passageiros poderão utilizar o novo traçado.
Oito novas estações
O traçado da Linha Rubi acrescentará à rede de metro do Porto oito novas estações: Casa da Música, Campo Alegre, Arrábida, Candal, Rotunda, Devesas, Soares dos Reis e Santo Ovídio.
Nova ponte
Para que o traçado possa partir da Casa da Música, no Porto, e rumar a sul, até Santo Ovídio, Gaia, será construída uma nova travessia sobre o Douro só para servir as composições amarelas.