Projeto da Junta de S. Vítor, em Braga, vai pôr duas gerações em contacto para combater isolamento social. Freguesia está a fazer sinalização dos casos.
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Quebrar o isolamento social e fomentar o respeito pelas pessoas mais velhas. São estes os principais objetivos do projeto "Cartas de amigo", que, a partir deste mês, vai colocar estudantes e idosos da freguesia de S. Vítor, em Braga, em contacto, através da troca de correspondência, como se fazia noutros tempos. A Junta, promotora da iniciativa, assumirá o papel de carteiro, garantindo que as mensagens cheguem ao destino.
"Esta ideia surgiu à conta de um senhor que tem vindo à Junta de S. Vítor todas as tardes. Deixou a sua atividade num quiosque e veio pedir para lhe ocuparmos o tempo. Ao ouvi-lo a contar as suas histórias, surgiu esta ideia de pôr em contacto os seniores e as gerações mais novas", recorda o autarca, Ricardo Silva.
O "senhor" que serviu de inspiração é António Vilaça, 86 anos, que assume "ter muitas memórias" para partilhar com os mais novos, mas também um certo constrangimento em transmitir as histórias através de cartas. "Eu não sou bom a Português", confidencia, para logo explicar que compensa os erros ortográficos com uma letra exemplar. "Ensinar como se faz caligrafia é que não me custava nada. Ensinar os jovens que queiram aprender", afirma, enquanto recebe a anuência do presidente da Junta para avançar com a ideia.
Sara Marques e Isabel Silva, estudantes da escola profissional Profitecla, parceira do projeto, estão dispostas a aperfeiçoar a escrita sob as orientações de António Vilaça. Mas, também, prontas para o motivar a escrever cartas, "mesmo com erros ortográficos". "Quero poder contar o meu dia a dia aos idosos, como quero que eles contem o seu. É uma troca de carinho", refere Isabel Silva.
Educar os mais novos
Ana Magalhães, 70 anos, está ansiosa que a primeira carta chegue ao correio. Viúva e com os três filhos emigrados, diz que se "[sente] só", embora tente sempre arranjar atividades para se entreter. "Eu até gosto de falar com os jovens. Os miúdos da escola Francisco Sanches põem-se à porta do prédio e eu dou-lhes muitas palestras", conta a ex-emigrante, revelando que vai passar esse perfil de educadora para o papel. "Nas cartas, vou querer saber o que fazem na escola. Isto agora há muita bandidagem", afirma, com um sorriso.
Segundo Ricardo Silva, a ideia do projeto é que cada jovem "apadrinhe" um idoso para trocar correspondência. Para já, a iniciativa vai arrancar com três fregueses, mas a Junta já avançou com um trabalho de sinalização de todos os idosos que possam estar em situação de isolamento. "Há muitos que têm filhos e netos, mas, durante o dia, estão a estudar ou trabalhar. Passam, na mesma, muito tempo sozinhos", refere o autarca.
Hugo Sá, diretor da Profitecla, garante que "todas as informações recebidas [nas cartas] vão ser salvaguardadas".
Pormenores
Voluntários
Os estudantes que vão integrar o projeto "Cartas de amigo" fazem parte do Profiforce, um grupo de voluntários da escola profissional Profitecla, que atua junto da comunidade.
Surpresas
Aproveitando os cursos de cozinha e pastelaria, o diretor da Profitecla, Hugo Sá, adianta que, nos dias importantes para os idosos, como o aniversário, a ideia é que as cartas incluam um "mimo", feito pelos alunos.
Contacto direto
Depois da troca de correspondência por cartas, no futuro, a ideia é que os estudantes passem a estabelecer um contacto mais próximo com os idosos apadrinhados.