A Órbita, marca de bicicletas da Miralago, em Águeda, está a um passo da falência. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Aveiro, Viseu e Guarda, a empresa tem "meia dúzia" de funcionários, "se tanto", porque, nas últimas duas semanas, "quase todos rescindiram o contrato de trabalho por salários em atraso".
Corpo do artigo
Rodrigo Lourenço, dirigente sindical, garante que "estavam já sem trabalho", porque a empresa não tem máquinas para laborar. O JN/Dinheiro Vivo tentou falar com o proprietário. Por escrito, Jorge Santiago reconhece que a Miralago atravessa "uma fase de grande crispação", mas assegura que "não é verdade que não tenha trabalhadores e muito menos máquinas, que se encontram todas nas nossas instalações".
Há meses que as notícias da falta de bicicletas do sistema GIRA, a rede de bicicletas partilhadas do concelho de Lisboa, indiciavam que algo não estava bem. Já em outubro de 2018 a Autarquia lisboeta falava em "dificuldades operacionais" da Órbita, "quer na reposição de bicicletas avariadas quer no fornecimento de novas bicicletas" e, esta semana, a EMEL, a empresa municipal de mobilidade de Lisboa, anunciou a rescisão de contrato invocando "sucessivos incumprimentos contratuais".
Ontem, a Órbita revelou à Imprensa que "não recebeu qualquer comunicação formal por parte da EMEL no sentido de tal decisão". Reconhece que "existem problemas", e assume a sua "quota-parte de responsabilidade, mas "jamais" aceita "ser o bode expiatório de um problema que tem mais responsáveis". Alega que a EMEL já tem em seu poder uma proposta de resolução da situação, que "passa pela substituição da empresa subcontratada pela Órbita para proceder à operação logística do sistema e à reparação das bicicletas".
Um ano de problemas
Certo é que o Sindicato dos Metalúrgicos acredita que "é uma questão de tempo até que um credor, se não a própria empresa, avance para tribunal com o pedido de insolvência". Rodrigo Lourenço garante que não será o sindicato a fazê-lo, até porque a maior parte dos trabalhadores que rescindiram "tinham já perspetivas de trabalho". O setor das "duas rodas", que sempre teve grande tradição no concelho, "tem crescido muito e os trabalhadores serão todos absorvidos", acredita.
Rodrigo Lourenço lamenta que "uma empresa com nome como a Órbita, que foi uma das pioneiras dos projetos de mobilidade autárquica, chegue a este ponto".
"Os problemas começaram há cerca de um ano, com atrasos pontuais nos salários, que a empresa justificava com falta de pagamento de clientes e atrasos na liquidação de faturas por parte das instituições públicas. A situação agudizou-se com o final do ano e o pagamento dos subsídios de Natal. Os atrasos foram-se acumulando e, nas últimas duas semanas, a quase totalidade dos trabalhadores que ainda restavam, cerca de 50 ou 60, rescindiram contrato", diz o dirigente sindical. Rodrigo Lourenço afirma nunca ter conseguido obter informações diretamente da administração: "Era uma empresa muito fechada, havia alguma dificuldade em comunicar, mesmo os trabalhadores não tinham facilidade em obter respostas". Esta é uma história com quase cinco décadas. A Órbita foi criada, em 1971, por Aurélio Ferreira. Em 2016, foi comprada por Jorge Santiago, atual proprietário e presidente-executivo.
PORMENORES
História
Criada em 1971, a Órbita é uma das marcas nacionais de bicicletas mais antigas. Nasceu em Águeda, também conhecida como a "capital das duas rodas".
Mercados
Em setembro de 2018, quando já se começava a falar em salários em atraso, o proprietário dizia produzir 15 mil bicicletas por ano, das quais 80% se destinavam ao exterior. Já só tinha 95 trabalhadores.
Exportação
Em 2016, Portugal era líder europeu em exportação de bicicletas. Em 2017, fomos ultrapassados pela Itália, mas o preço médio de exportação foi superior.