A Carris Metropolitana, em funcionamento em toda a Área Metropolitana de Lisboa (AML) desde janeiro, prometia mais horários e menos tempo de espera pelos autocarros. Três meses depois, contudo, multiplicam-se as queixas dos passageiros, que chegam todos os dias atrasados ao emprego, a consultas ou à escola e dizem que o serviço piorou. A Transportes Metropolitanos de Lisboa, que gere a Carris Metropolitana, justifica as falhas com a "complexidade do processo", falta de motoristas e aumento do trânsito, mas prevê que a situação melhore no início de abril.
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As operadoras de transporte rodoviário da Grande Lisboa juntaram-se numa marca única, primeiro na margem sul do Tejo, no verão do ano passado, e depois, na margem norte, em janeiro. O processo de implementação tem-se revelado difícil desde o início, com supressões de autocarros, atrasos e esperas de duas a quatro horas. Rui Lopo, administrador da Transportes Metropolitanos de Lisboa, diz ao JN que "é comum haver problemas" neste género de reestruturações.
"Seria sempre, inevitavelmente, um processo altamente complexo que tem tudo para correr menos bem devido à dimensão do desafio de uniformizar linhas, horários e operações de transportes", explica, acrescentando que algumas cidades europeias, "francesas por exemplo", sentiram os mesmos desafios.
Às dificuldades já esperadas, juntaram-se outros problemas. "Há 60 motoristas em falta na margem norte para que a operação esteja toda em pleno", revela, acrescentando que "não há mão-de-obra em Portugal" e as operadoras têm recorrido a trabalhadores estrangeiros, processo que se tem revelado moroso. "Contrataram motoristas no Brasil, cujo processo de transferência de carta de condução é muito burocrático. E quando vêm para cá têm ainda de fazer um curso de aptidão de motoristas que demora um mês", diz Rui Lopo.
"Paga-se mais lá fora"
No início de abril, garante, a situação vai melhorar, pois "60 motoristas ficarão com o processo burocrático terminado", mas a fixação de profissionais continua a ser um problema por resolver. "Há uma grande rotatividade, têm saído quatro ou cinco por semana. A profissão é difícil e paga-se mais lá fora", justifica.
O "trânsito" é outra das explicações avançadas para o insucesso da operação em algumas zonas. "Não se conseguem cumprir horários nas horas de ponta em todos os autocarros que têm Lisboa como destino. Causa mais transtornos do que a falta de motoristas", argumenta. O administrador da Transportes Metropolitanos de Lisboa admite ainda que os dez meses que as operadoras tiveram para arrancar como Carris Metropolitana "foram curtos", "a preparação dos operadores correu mal" e foi "agravada pelas questões da mão de obra e fornecimento logístico, com atrasos no fornecimento de viaturas".
Pressão política
A empresa, salienta, porém, que houve "um aumento da procura" pela Carris Metropolitana e em "várias zonas da AML o serviço é bem maior e transporta-se mais gente do que antes".
Fernando Nunes da Silva, especialista em mobilidade, diz que houve "uma pressão política muito forte para todos os concelhos poderem ter os melhores serviços ao mesmo tempo". "Em vez de se fazer uma mudança gradual, mantendo-se os serviços anteriores o máximo possível, fez-se tudo ao mesmo tempo e deu este problema", acredita.
Dados
420 painéis informativos serão montados com horários em tempo real: 320 estão a ser instalados agora e prevê-se mais cem. Este ano, entrará em funcionamento uma aplicação para o telemóvel.
20600 circulações diárias da Carris Metropolitana, as quais, segundo a empresa, vão aumentar. Desde que arrancou, foram colocados 12 500 postes com as novas numerações dos autocarros.